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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Projeto de um livro inacabado.

Capítulo Zero.              Venho aqui apresentar a pobre situação em que vamos nos encontrar pelos próximos tempos. Um grande relógio foi colocado na beira de uma praça como símbolo do final da segunda guerra mundial. Várias pessoas iam até aquele símbolo tentar amenizar seus pesares incuráveis. A praça se contaminou de suplícios e preces pelas vidas que foram eliminadas antes do seu tempo natural.              Um dos pais sofredores não agüentou a hipocrisia de um relógio que marcasse o tempo, justamente, em homenagem, a morte de seu tempo subjetivo. O tempo haveria de ter parado na sua mente no momento desesperador em que seu filho foi morto. Por isso, o pai, que trabalhava como relojoeiro, reverteu o sentido do relógio. A justiça seria atingida, assim, que, o tempo fosse entregue de volta em direção contrária.              O argumento daquele pai não é simples, porque ele queria ter a única coisa que sempre foi mantida a distância, desde os tempos mitológicos gregos,

Declaração clichê.

Porque você gosta de mim. Ela repetia a pergunta. Existe um imaginário criado em cada mente acerca de outra pessoa. Lembro dos seus olhos, quando me fez essa questão. A única coisa que conseguia imaginar era porque ainda não estávamos nos beijando. Gostaria de voltar a sua pergunta, por um instante. Desde quando eu era pequeno, nunca tive nenhuma certeza no amor e tal insegurança me proporcionou imensa descrença sobre seus mecanismos e lógicas; preferia viver como se fosse uma série de confusões. Infelizmente, apesar de toda sua loucura, me imagino um dia acordando do seu lado. Por um segundo, uma sensação muito curiosa se apropria de mim mesmo. Alguns a chamariam de felicidade. É um tipo de sentimento sobre o qual eu não tenho qualquer costume; uma sensação de cumprimento de destino. Imagino que tal sensação tenha sido parecida dos meus avôs quando chegaram ao Brasil, fugindo da segunda guerra mundial, e se encontrando juntos e felizes. Por mais clichê que soe, eu gostaria de acor

A morte das palavras.

O garoto senta na cadeira do médico. O imenso homem olha para o pequeno menino, e se espanta. Ele havia sentado na sua cadeira, subvertendo um sistema de hierarquias concebido há centenas de anos. O médico começou a dizer, com um longo tom grave, que o silêncio da criança tinha que ser destruído: Não é possível que você fique sem falar, você tem somente doze anos, na sua idade não existem motivos que roubem suas palavras, por favor, volte a falar, qualquer coisa. O garoto sorriu, enquanto disse as primeiras palavras em mais de dois anos: -As palavras não têm nenhum significado.              Se ao menos, alguém descobrisse os dizeres por trás de tão simples palavras. Eles perceberiam que o que o garoto tinha em mente era algo de extrema gravidade. As palavras não têm nenhum significado. Morre seco na sua garganta, o ar que recria a vocalização de meras passagens de ar pelas cordas vocais. Seu sonho era recriar um mundo inteiro de ruídos incoerentes. O garoto lembrava-se das pa

Dádiva.

A menina carregava delicadamente a pequena caixa ornamentada como fosse sua própria alma que estivesse escondida naquele pequeno compartimento. Ela gritou, de forma exagerada, quando puxaram sua mão. Esperava, sinceramente, que não fosse obrigada a abrir os pensamentos sombrios da humanidade. A voz que ressoava na sua mente repetia o repertório de saberes inelutáveis. O fogo destruiu a coerência da racional; resta o papel dos deuses ao equilíbrio instável. Ela gemia de dor, enquanto seus cabelos eram distorcidos, porque ela sabia que teria que atuar. O amor nasceu, na verdade, da criação de uma lista de formas de atuação com o intuito de mascarar a intenção real do desígnio; reinventar o próprio fogo, assim como o pensamento sombrio que rondava nosso espírito. A mulher deitava na cama do psicólogo, tentando lhe explicar o problema. Meu sexo é como um presente que entrego; sou a ramificação daquele que recebe. Minha função existencial é abraçar alguém e lhe dar minha personalidade

Romeu e Julieta.

Cara Julieta,    Quando perguntaram a Sócrates porque ele não fugiria, sua resposta foi clara: viver fora da cidade é não viver. O ostracismo é uma forma de exclusão total da sua identidade. A morte seria mais doce em lugar de uma retirada total das características que lhe formam. Ele gritou a todos os brandos que preferia que fosse eliminado da vida, uma vez que “não ser” era melhor do que perder sua identidade. Quando perguntaram para mim o que eu sentia, tentei explicar o sentimento de perca de identidade; o problema era mais complicado. Indizível era meu problema; não se pode expressar a dissociação, você simplesmente a entende. Enquanto te vi deitada sobre a sepultura com a carta que nos ligava perdida no caminho, pedi o pior dos venenos para viagem. É difícil exprimir o meu problema com o tempo. Desde criança, o tempo me pareceu uma vírgula mal explicada de um texto extremamente simples. Todos com quem eu me ligava romanticamente tinham o tempo como imensos planetas que

Conto do amor surreal.

Duas mulheres conversam, melindrosamente, em um grande apartamento no centro da cidade. A primeira tentava acalmar a amiga que não conseguia parar de chorar. Era como se a emoção acumulada em volta dos anos houve acumulado dentro do seu semblante. Pacientemente, a amiga passava a mão nos belos cabelos da sua amiga. Seu ex-marido havia acabado de declarar seu noivado com umas das mulheres mais bonitas da alta sociedade. Ela repetia a si mesma e, logicamente, a sua amiga, que o marido havia sido o único amor da sua vida inteira. Não lhe importava essencialmente que os vintes anos haviam sido regados de violência e infantilidade, porque seu sentimento estava prestes a explodir.  A amiga funcionava como um viajante procurando no meio de uma densa nevoa algum tipo de caminho; a sua amiga, porém, não haveria de fugir do sentimento que lhe aplacava. Ensimesmada, ela chorava sem parar. Desse jeito, ela haveria de perder todo o liquido do seu corpo; não importava. Quero mais que meu corpo

Autodestruição.

A perfeição de um corpo malhado. De uma mente calma. De uma vida segura. Tudo pode ser destruído dentro de poucos minutos. Um copo de uísque até o final da garrafa. O sangue começa a ficar confuso; você não consegue mais enxergar direito. Tudo bem. Você está trancado no banheiro. Batem na porta. Começam a gritar. Só um momento, por favor. Estou quase fora da porta. Um segundo. A garrafa vazia jaz nos seus pés, enquanto seus sentimentos explodem numa ultima reminiscência. O que eu queria esquecer mesmo. Não consigo lembrar. O plano funcionou.                  Quando ele era jovem, e acumulava suas raivas; seu pensamento explodia. Isolava-se no lugar mais silencioso. Pegava os cigarros. Queimava lentamente seu braço; aproveitando a calma que aquele sentimento lhe dava. Calma. Um pouco mais. Estamos perto da vida. Pegava uma faca. Cortava um pouco o pulso. O sangue e as queimaduras o acalmavam. Esqueça isso. Tudo bem. Não me lembro do que eu estava tentando lembrar. Batem na porta