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Mostrando postagens de maio, 2011

O matemático.

Ele era matemático. Vivia de calcular o que os outros ganhavam ou perdiam na bolsa de valores. Ele usava um terno. Ninguém duvidava da sua respeitabilidade. Vivia sozinho numa casa extremamente organizada; tudo ficava no seu lugar próprio. Ele contava as voltas do relógio obsessivamente até seu trabalho chegar. Ele chegava ao escritório e dizia sempre as mesmas palavras: - Bom dia, João. -Bom dia, senhor. Senhor. Era essa palavra que ele inspirava nas outras pessoas. Parou de falar aos 10 anos, quando descobriu que a comunicação de si mesmo era impossível. Afinal se somente podemos ter projeções das outras pessoas, ele queria fazer uma piada; ele não teria nada já que tudo são somente projeções e imagens. Quando ele chegou a essa conclusão, estava andando pelas ruas escuras. Era meia-noite. Ele olhou o reflexo da lua andando pelos prédios, e como essa imagem mudava a partir do azulejo que era refletido. Ele achou aquilo à coisa mais bonita que ele tinha vis

O outro.

Um menino de 12 anos, na quarta série, começa a andar pelo recreio. Vocês não conseguem imaginar como é duro ter que usar um freio-de-burro como aparelho nos dentes e para a coluna um longo aparelho de madeira que ocupa todas as suas costas. Imagina como é fácil ser popular com essas características, e talvez o pior que essa seja justamente a fase crucial em que meninos e meninas passam a descobrir o beijo, o encontro e todas essas coisas tão legais que vem quando você cresce. Vagar pelos recreios sozinho é uma coisa, o que era mais grave era saber que você era diferente: um médico diz a sua mãe na beira do consultório; bem, seu filho tem uma inteligência acima normal junto com o desvio de atenção que nunca o deixara totalmente ancorado no mundo; ele é outro no meio de muitos. Bem filho, seu avô e eu sobrevivemos com o mesmo problema, é seu trabalho viver nesse mundo, eu só te trouxe aqui. Obrigado. Doze anos de idade é a idade que você começa a gostar de garotas; você se pergunta

Cyrano.

Sonhei com você, te devo desculpas. Eu quebrei algumas leis para criar o cenário perfeito, mas a verdade é que existe perfeição sem fogos de artifício ou quartetos de cordas gritando. As quebras que aprendemos com os dias, um sorriso na hora errada, a infelicidade da separação. Ordem, coerência, estabilidade, opressão, chato. Queria te conhecer numa chuva gripado com confusões ao redor, cachorros latindo, alienígenas atacando o mundo, a última guerra mundial. Poderia dizer tanta besteira. Olhar para o seu rosto e parar de sonhar com ele. Mas eu sonhei com você, E por isso peço desculpas.