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Mostrando postagens de abril, 2012

Namoros imaginários.

Olhos pelos seus óculos esperando entender seu mundo. As cores que você vê pela forma que tudo lhe aparece. Desejo ser seus olhos para assim conceber suas ações num ser lógico. Ou ilógico. Quem sabe. Somente são óculos e sou completamente separado deles. A cor dos seus óculos escuros me retira do seu mundo. Sou expulso do quarto que nos une, mas eu só queria ficar por mais alguns segundos. Soube que você iria embora: quando, quando e quando. Percebo então que você não foi. Continua no meu peito. Retirando seu corpo, resta apenas à metafísica. A metafísica morre, pois ela se funda no corpo. Separação é pura metafísica e ela morre, mas eu sei que ainda te amo. Percebo a efemeridade do tempo que passamos juntos, por isso decoro seus olhos e contorno. A partir deles, te reconstruo. Vivemos de reconstruções que guardamos na memória. No fundo, estamos construindo um lago de memórias; um lugar que faz parte do que somos. Um lugar para mergulhar quando entrarmos em pane. Quan

Última conversa.

- Você vai terminar o conto dessa forma? -Como assim? -Sem final. -Claro, como a gente. -Você sabe que isso não é verdade. -Eu sei. Eu excluí tudo. As suas fotos, seus contatos, qualquer coisa que me ligasse a você. -Mas eu ainda estou aqui. Do que adiantou? -Eu to matando seu imaginário. Coleciono uma casa de imaginários alheios. -Eu vi. -Impressionada? -Não muito. Você ainda conversa comigo. -Mas essa é a última conversa. -Não é. -Claro que é. Eu to te chutando do meu imaginário. Eu to colecionando verdades irreais. Agora eu aceito que a verdade não existe. Aceito que eu estou colecionando pessoas e lugares que não existem. Mas você não. Eu estou montando um museu de gente imaginária, e dele você não pode fazer parte. -Porque não? -Porque não posso. Não mais. Sabe, eu andei pensando. Sobre a separação do amor espiritual e do amor físico. E se os dois forem a mesma coisa? Eu sinto que eu sou sempre o primeiro. Sinto que eu preciso separar; preciso viver

Amor.

Ela senta na livraria contando o número de homens que passam pela porta. Se ela contar direito, vai perceber que evidentemente nenhum deles era o homem que ela estava esperando. Ele tinha uma rosa vermelha pendurada no bolso do paletó. Um sinal patético de um sentimento tido como quase abominável. De alguma forma, aquela rosa representava no imaginário mais do que uma pobre planta deveria ser. Mas ela estava no seu bolso, como se a visão inteira do homem que adentrou aquela porta estivesse na ponta do seu bolso. Eles haviam trocado cartas por mais de um ano, e ele finalmente conseguir marcar um encontro. Ela era apaixonada pela idéia do amor, mas tão somente pela idéia. Ela não gostava de qualquer personalização daquele sentimento. Ela queria o devir de um sentimento que nunca existiu fora do papel. Ela queria esperar por um homem com uma rosa, que ela nunca iria encontrar. Antes mesmo de vê-lo atravessar a porta, ela já sabia que iria embora. Assistiria até o último mome

João.

Começa os dias contando às flexões que faz até o chão. Um, dois, três, quatro e cinco. Vinte séries de cinco. Uma, duas, três, quatro e cinco. No cérebro dele, se ele começa o dia dessa forma, nada pode derrotá-lo. Ele ajeita o cabelo enquanto joga a camiseta e a calça jeans mais apertada que tem para fora do armário. Seus amigos costumavam brincar que para um psicopata, ele se vestia como um adolescente normal. Ele passava antes da escola na casa de uma prostituta conhecida da cidade. Uma hora de sexo antes da escola. Ela terminava a noite e ele começava o dia. Ele se lembra de sorrir ao começar aquele ritual de manhã cedo. Ele tinha poucos dezessete anos e já era viciado em sexo. Depois, ambos fumavam um cigarro na rua enquanto o sol nascia. A prostituta tinha longos cabelos loiros e lembrava uma mulher dos antigos filmes de Hollywood. Eles nunca trocavam mais que dez palavras. Haviam se conhecido na noite que ele perdeu sua virgindade com ele. Desde então, eles se enc

Joaquim.

Começa o dia sonhando com um sono que nunca vem. Ele está acordado por três dias inteiros. Quatro dias e você começa a ter alucinações. Informação facilmente achada no google assim como: remédios comuns necessários para se matar, como conseguir informações pessoais com somente um nome e como fazer bombas caseiras com materiais mínimos. Viva a liberdade da internet. Ele trabalha como vigia de casas noturnas e observa todo dia as mesmas pessoas repetindo as mesmas pobres ações. Os rostos mudam, mas nunca os acontecimentos. Diálogos vazios regados a álcool. Brigas por motivo idiotas. Ele fica calado, esperando alguém perceber. Perceber que ele está cansado. No começo da sua manhã, Teresa passa pelo mesmo caminho até a escola. João nunca soube, mas por aquele pequeno caminho, os dois dão as mãos. Eles nunca discutiram, mas fazem isso todos os dias no pequeno intervalo do caminho em que João não está. Joaquim respira fundo, e descansa. Naquele pequeno intervalo de

Teresa.

Começa seus dias se perguntando sobre o que é o amor. Ela pensou que com dezessete anos teria todas as respostas. João seria o homem dos seus sonhos. Desde pequena ou, melhor, desde a morte de seu pai, ela nunca havia sido a mesma. Seu pai era uma imagem mitológica da sua imaginação. O grande homem que se corta com facas na cozinha. O homem sozinho e deprimido, que sua mãe sempre traiu. Ela agora morava com os avôs, depois da mudança de sua mãe para outro país. Ela se sentia sozinha. Sua única companhia era o fantasma de seu pai. Joaquim não compreendia as mãos dadas no começo da manhã. Teresa via a semelhança entre os olhos tristes de Joaquim e de seu pai. Ela sentia no seu coração que ele estava perdido. Dando as mãos, ela se reconciliava com um pai que nunca conheceu. Ela se reconciliava consigo mesmo. Nunca imaginou que Joaquim pudesse ter qualquer sentimento, ele parecia tão cansado. Teresa imaginava que João era o homem perfeito. As amigas viviam di