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Mostrando postagens de abril, 2010

Peixe Grande.

A criança senta sobre a cama. A garça branca, com asas pretas, senta do seu lado: você deve ouvir meu cantar. O garoto acorda, não consegue entender o sonho. Algo de incrível jazia naquela criança, ao nascer tinha saltado direto da mãe e começado a se mover; se debater contra os que tentavam impedi-lo de chegar até a porta. O sonho era mais uma parada no que seria uma grande história. Aos dezoito anos tinha se tornado um alto homem, com muita coragem e pouco bom senso. Seu local favorito era a praça da cidade, passava horas enxergando as garças voarem de um lado para o outro. Não havia garça, que não tinha sido perseguido por aquele atlético homem. O relógio batia às 2 horas da tarde pontualmente todos os dias, enquanto ele começava a terminar outro livro. A rotina nunca mudava, independentemente do mês ou ano: ele se mantinha ali. Havia se tornado uma lenda, o garoto capaz de aceitar qualquer desafio: desde derrubar árvores, caçar peixes imensos, gritar em prédios vazios, lutar contra

Abril de 2010.

O ônibus traçava a linha da rua, entre prédios imensos; um enorme prédio retangular cinza e outro enorme prédio branco. O velho olhava da janela da sua bancada, calmo, pensava em quantas vezes ele e as mulheres tinham feito o mesmo caminho do ônibus. Eles nunca andaram em uma linha reta, faziam curvas entre si por uma vida inteira sabendo que a única parada consistia no caminho que os unia. Da sua janela, ele observava os passageiros: namorados, solteiros, malucos, lúcidos, velhos, novos, humanos. Ele sempre se perguntava sobre como os caminhos acabavam se cruzando, num ritmo totalmente aleatório; quase sem propósito. Sorria, por acreditar na força do acaso. Dentro do ônibus metade branca metade verde, tinha aproximadamente trintas pessoas. O suor coletivo era desesperador, assim como a falta de educação onde velinhas e grávidas dificilmente conseguiam sentar. Na traseira do ônibus tinha dois adolescentes em pé, que nunca haviam se conhecido, a única união entre eles eram o fato que os

Dezembro de 1998.

O menino mais alto continuava de pijama: shorts azuis e camiseta branca. O menino mais baixo, irmão mais novo, usava o mesmo short azul. Os dois tinham sido deixados sozinhos em casa. O mais velho de oito anos, tinha que cuidar daquela coisa energética de 6 anos. Ele pulava, gritava, girava, não deixando o pobre irmão mais velho com paz. O irmão mais velho tentava acabar com o estilo do mais novo, que tinha acabado de aprender ótimos movimentos de kung-fu num filme japonês. Seguindo a bom e velho ditado popular se você não pode vencê-los, una-se a eles. O mais velho e mais novo começaram a soltar movimentos aleatórios de corpo que simplesmente pareciam uma luta de duas garças drogadas com LSD. Nada podia ser mais belo, que a idiotice de dois garotos, que rapidamente virariam dois homens; que continuariam parecendo duas garças drogadas; que continuariam olhando um para o outro como os dois estranhos no ninho: os que tinham os melhores movimentos. O mais velho, Fernando, sempre belo e el

Janeiro de 1981.

O velho vestia a camiseta social azul, com calças sociais e sapatos de couro marrom. A mulher usava um vestido branco, com sapatos vermelhos. Eles se encontravam num meio do galpão abandonado, os olhares haviam sido trocados a noite inteira. Entre eles havia algo, nem que fosse a mera tensão de um besta olhar. Ele havia a puxado para esse galpão, ela havia aceitado. Belo começou a conversa, nem um pouco embaraçado: - Você não tem tirado os olhos de mim à noite inteira. - Você é um cafajeste, só fico surpreso com quantas mulheres dança. - Mas e se meu coração for só seu? - Como posso acreditar em você? Dizem que você beija todas as garotas. - Pode acreditar assim simples e direto. - Mas você é um cafajeste. - E você tem belos olhos. Não vejo qual é o problema, Rosa. - Belo, claro que problema. Como confiar em alguém? - Você está pensando demais, você só confia e espera que tudo dê certo. - Vamos dançar?- Ele continuou. Ele pegou a mão dela, enquanto a carregava sobre um balcão vazio. A