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Mostrando postagens de março, 2010

Carência.

Você tem uma carência dentro de você, que tenta esconder. Você não percebe que o quanto mais você esconde, maior ela fica. Faz questão de tornar ela algo escondido, se satisfaz em corpos que encontra pela avenida da vida, espera que isso resolva tudo, que isso cause espasmos de liberdade nessa prisão. Não percebe que a prisão está longe do seu corpo, longe do tátil. Está localizada bem perto do pulmão, do lado do coração, um pouco afastado da barriga, sua alma está carente. Você prefere correr, sem se aproximar de ninguém, falando a si mesmo silenciosamente que não existe carência; que você não precisa de ninguém. Você quer gritar isso, sua independência, como se fosse uma heroína, mas isso te corrói aos poucos, levando o que tem de belo para o fundo, o que de carapaça para fora. Você quis me assustar, eu não me movi. Eu nunca vou me mover. Você terá tantos quanto quiser que façam seu corpo e o tátil alegre, mas talvez poucos vejam o que eu vi. Veja o quanto no fundo da sua sombra exi
- É uma capacidade- respondeu Narciso, pausadamente- de perceber o caráter e o destino dos homens; não só o meu próprio destino, como o dos outros também. Esta faculdade obriga-me a servir os outros, no sentido de dominá-los. Se eu não tivesse nascido para a vida monacal, teria que ser juiz ou homem de estado. -É bem possível- Assentiu o abade.- Você confirmou essa sua capacidade de conhecer os homens e seu destino? Tem alguns exemplos? - Você poderia dizer o que achar a meu respeito, seu abade Daniel? - É bem pouco o que sei sobre vós, venerável padre. Sei que sois um servo de Deus que preferiria cuidar de cabras ou fazer soar o sininho de uma ermida humilde e ouvir confissão dos camponeses a dirigir um grande convento. Sei que dedicais um amor todo especial à Santa Mãe de Deus e que quase todas as vossas preces são dirigidas a ela. Rezais com a intenção de que o grego e outros assuntos estudados aqui neste convento não venham a ser motivo de confusão e de perigo para as almas que vos

Adão e Eva.

Eu irei escrever essa história na primeira pessoa. Odeio usar um narrador tão próximo da história, as palavras ficam clichês e parece tão pessoal. Infelizmente tenho que escrever dessa forma, já que dessa vez não preciso aumentar os acontecimentos, por si mesmo eles já representam mais do que eu poderia criar na ficção. Por isso lutei tanto em escrever essa história, nada do que eu possa dizer aqui vai conseguir explicar o que me aconteceu, mas colocarei minha esperança que as palavras digam o que eu sou inapto a dizer olhando no seu rosto. Não se engane: esse conto existe por você. Vou começar numa parte que é a metade, a minha ida ao centro cultural. Eu fui à mostra de cinema, com esperança de poder te ver, mas você não foi naquele dia. Entrei na livraria, provavelmente o lugar que me sinto mais confortável no mundo. Olhei para os livros de sempre, e o rosto deles não havia mudado. Algo me chamou a atenção, algo pequeno e que parecia não ter significado. Duas crianças, uma menina e u

Calma

Calma, calma, coração parece rodar feito um peão, O desespero bate, e zela pelo seu sentido de viver, A calma zela pela sua sanidade, eternidade perdida, entre os ecos da calma.

Anos de platonismo.

Anos de platonismo quase destruíram o homem. Sua aula tinha acabado a vários minutos. Deu a deus a duas amigas, e leu pacientemente os títulos dos livros na estante. O silêncio era inacreditável, os títulos se misturavam na sua cabeça. Ele ansiava, como todo herói de filme, falar com ela. Ele andou de um lado para o outro: uma vez, duas vezes, três vezes. Ele resolveu comprar um lanche na marcha mais devagar possível. O relógio passava devagar como se tivesse uma vingança pessoal com o homem. Dias atrás, ele tinha ido rápido ao mesmo intuito que ele não a visse. Os ponteiros pareciam girar no estilo de uma hélice de helicóptero. Talvez não fosse o tempo, mas ele que se enganava de não tentar nada e culpar o pobre e inocente tempo. Ele decidiu ir embora, um homem crescido não deveria agir daquele modo. Um homem crescido não deveria acreditar em contos de carochinha, em contos de cavaleiros matando dragões, ou de dragões salvando cavaleiros. Enquanto caminhava para fora do prédio, ela ap

O homem acordou febril dentro de seu quarto.

O homem acordou febril dentro do seu quarto, os próprios objetos o oprimiam. Ele via suas centenas de livros, e eles pareciam dizer algo para ele. Seus olhos estavam extremamente vermelhos. Sua altura era média, tinha cabelos e olhos negros. Seu rosto estava extremamente sério, sentou na cadeira e resolveu começar a escrever uma carta: Cara Eros. Eu tava pensando com os meus botões, sim, as pessoas ainda usam essa expressão e resolvi escrever essa carta. Eu precisava provar que você tava errada, que não havia nenhum ódio no meu coração. Você nunca entendeu de verdade, eu te amei porque você foi a primeira a ver algo bom em mim que eu não sabia. Eu melhorei tudo que você viu, eu li centenas de livros, só porque queria ter a certeza que descobriria sobre o amor. Eu ajudei as pessoas, de verdade, eu me esforcei de verdade. Eu queria muito que você tivesse visto, você teria tido um prazer diferente com aquilo que me tornei. Pensar que eu poderia te odiar chega a ser realmente engraçado, e

Gelo.

No começo do mundo existiam dois lugares onde existia vida humana: um lugar quente e outro gelado. O lugar quente tinha nascido da barriga da terra, era composto por vulcões, terras duras, fogos e monstros que lembravam dinossauros. O pior de tudo era que qualquer tipo de agricultura ou criação era duramente castigado pelo clima que atingia níveis alucinantes para qualquer ser vivo, mas, mesmo assim os humanos conseguiram sobreviver nessa terra árida. Dentre esses homens, existia um garoto nos seus 12 anos de idade. Eric era seu nome, sua alma era realmente distante dos outros seres humanos, podia ser percebido a grandes distâncias. Ele tinha um imenso coração, talhado pelo fogo do seu continente. Na sua mais terna infância tinha sido abandonado pela família, resignado a viver junto aos monstros que se assemelhavam a dinossauros, por alguma razão ele sempre conseguiu sobreviver. Nada saia da sua boca, palavras lhe eram proibidas segundo seu código pessoal. Ele andava pelo mundo sem nen

Bonsai.

Quando eu era mais jovem, eu ganhei um bonsai de aniversário. Nunca consegui entender o que o velho que me vendeu quis dizer quando me falou que o bonsai me faria entender mais sobre o mundo do que eu imaginava. O bonsai parecia andar no ritmo nas minhas emoções. No meu egoísmo juvenil, queria tudo exatamente na minha medida, ignorava totalmente o resto das condições e as pessoas ao meu redor. Queria amar como se as pessoas amadas fossem um objeto que nunca estivesse ao meu alcance, agi como uma criança quando queria um brinquedo egoisticamente só pelo motivo de querer. Nessa época, meu bonsai morreu. Folha por folha, ele foi se dissolvendo, até que o vento não deixou nada a não ser um esqueleto. No mesmo período, agi errado com alguém que gostava muito, pelo motivo de não querer entender nada que não fosse meu próprio umbigo. Meu bonsai parece que tinha entendido as minhas fraquezas, e se dissolvido antes mesmo que eu tivesse entendido qualquer coisa. Eu me esforçava em excesso, sem e