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Mostrando postagens de outubro, 2011

Gatos.

É uma ruela escuta, numa cidade cheia de pessoas sem rostos. O garoto de 15 anos entrou com uma roupa gasta. A chuva caia cada vez mais forte, na medida em que ele adentrava o pátio a céu aberto. Ele chorava, ou era pelo menos isso que todos os amigos esperavam que ele estivesse fazendo. Ele tinha saído correndo desesperado. O dia era ensolarado, até o momento que ela começou a dizer aquelas palavras. Num silencio quase sem fundo, ele parou de escutar. Era como se um véu escuro adentrasse o bar lotado de pessoas e criasse um vácuo. Tudo que ele sentia eram partículas no ar tomando cores sombrias e adentrando seu ao redor. Ele não conseguia respirar. Era como estar preso num plano alheio ao mundo, mas ao mesmo tempo pertencente a ele. Quase sem ar, ele acordou. Tudo tinha mudado. Ele precisava ir embora, até a pequena ruela onde os gatos esperavam. Havia um chamado no ar, e enquanto ele chorava a própria chuva começou. De alguma forma estranha, ele tinha criado aquela chuva. Toda gota

Estóicos.

Criamos uma imagem do que queremos que seja humano. Invadimos o outro com portas se quebrando, porque precisamos que o outro seja nosso humano; que ele seja um espelho do que nós somos. Narciso só via no espelho aquilo que queria ver. Inventamos ordem inteiras com a ridícula desculpa que o outro tem que ser nosso humano. Nosso maldito símbolo de estabilidade é esperar que todos sejam como um; que eles respirem o ar de várias vidas seguindo nossa respiração. Nós somos absurdos de querer categorizar todos e colocar crachás tão bonitos, porque fomos nós mesmo que fizemos. Aquilo que sai da nossa mão é o mais bonito, o que está na mão do outro só pode ser horrível e assustador. Nossa incapacidade de compreensão beira aos radicais que quebram a cabeça de outros porque não são eles mesmos. Quando na verdade, o que você deveria perseguir é você. Sua vergonha de ser o que quer que você seja, de se questionar sobre seus absurdos e seus problemas que não tem absolutamente nada com o outro. Os

Underdog.

Aquele personagem que passa o filme inteiro atrás da garota. Que nem se dá ao trabalho de notar sua existência. O homem que corre na chuva com um violão quebrado gritando uma música provavelmente dos anos 70. A melodia que você espera que ganhe o coração da moça dentro da janela. Moça que já conheceu vários outros moços. Pode estar com algum outro moço nesse exato momento, enquanto o violão toca seu acorde menor com a chuva abafando seu som. Você conhece um desses meninos. Eles são os melhores amigos esperando por uma chance; eles são homens que vivem somente de uma esperança. De um suspiro. De um riso. Estamos falando desse tipo de homem. No filme, ele fica com a garota. Num final surpreendente, com direito a quarteto de cordas, um amigo desastrado e uma festa perto do lago. Na vida real, a história não é a mesma. Não funciona como nos filmes. Um homem com seu violão tem poucas chances na chuva. Ele sempre teve. Eu estou aqui para dizer que eu pensei que tinha abandonado meu companhei

A beleza da literatura.

Tinha um psicólogo meu que falava uma coisa engraçada. Ele falava que eu tinha uma personalidade insana misturada com uma incapacidade de viver no mundo real. Melhor, dizendo ele tinha medo do que um dia eu fosse capaz. Ele disse que o problema é que eu consegui esconder por panos de normalidade, algo assustador. Isso misturado com uma capacidade única de pesquisa é explosivo. Capaz de destruir muros com uma simples bolas de tênis. De construir uma bomba de fumaça com simples palitos de fosforo. Capacidade de destruir. Capacidade de se auto-destruir. Lacan tem uma ideia bonita que o único verdadeiro reconhecimento do outro vem a partir da mais pura e lenta violência. Não existe uma bela ordem simbólica em que o outro sinta o que nós sentimos. Não existe. Possibilidade de compreensão é uma utopia que nem Thomas Morus teria coragem de sonhar. É necessário que o judeu de Shakaspeare exija um pedaço de carne ao seu fiador: ele queria que o contrato fosse seguido à risca independentemente d