Nude.
Uma despedida final: silenciosa,
irreversível e tristonha. Se eu pudesse explicar como me sinto ao menos uma
vez. Os sentimentos parecem incoerentes: tudo de ruim que já passei se acumula
em um lugar sombrio onde as lembranças se confundem. Ao menos, devo tentar
superar o que foi passado. Separar em pequenos compartimentos, e reparar por um
total e oco silêncio. Juntar os pedaços e formar um eu retomado de lembranças
que não nos matem; não tirem nossos pedaços. Você não podia ter tido grandes
idéias, porque elas não aconteceriam. Repita o mantra. Acrescente os refrões, o
verso e a melodia. Corrija a voz. De novo. Repita o processo. Mais uma vez. Não
faz bem. Calem-se. Continue. Ignore as vozes. Elas fazem barulho demais no
lugar do mais vazio e completo silêncio.
Existe um sonho repetitivo nos
arquivos ocidentais: a nudez frente ao público. Seu corpo exposto perante
alguém que você nem ao menos conhece. A placidez falsa de alguém tomada de
surpresa. A calma ilusória de quem não sabe quem é. A primeira vez que amantes
ficam sem roupa frente um ao outro. O desespero momentâneo antes do prazer. O
retumbar dos tambores de prazeres domados. A energia da pulsão de morte tomando
conta dos seus erros e contornos. Você não deveria sentir, você não deveria
pensar, você não deveria encontrar. Desculpa. Estou sem roupa frente a um
público. Um sonho repetitivo. Freud, me salve. Peça ajuda a Lacan. Quebre a
cabeça com Jung.
O processo de dissociação. A mente
fechada em si mesma. A porta trancada. Os recônditos da sua possível estrutura de eu escondida para sempre. O definitivo de não supor, mas estar certo que
alguma coisa fechou. As trancas se amarraram com avisos, perigos e
cartazes. Você se pinta de uma cor
neutra, tenta preencher todos os vazios. Retomar o que não expressa nada. O
zero. O sonho cartesiano levado com seriedade deveria destruir todos os
sentimentos; entenda. Reconstrua-se a partir do ponto nulo.
Você vai para os lugares mais
sombrios pelo o que sua mente suja está pensando. As reconstruções errôneas daquilo
que você desejou; você não poderia ter pensando nas possibilidades. Errado.
Incorreto. Comece de novo. Encha de silêncio. As lacunas do que você
estabeleceu como meta. Encerre-se numa sina de ausência de palavras. Elas nunca
significaram nada, além daquilo que você acredita. Você partira para o inferno
pelo o que sua mente quer; pelo o que seu coração deseja. Acredite no que falo.
Você foi avisado.
Adeus. Se todo texto é uma expressão
de comunicação, este representa o zero. Estou prestes a ir embora para outra cidade. Um último
texto e uma última música. Se nossa vida fosse um livro, eu diria que esse não foi um final muito bom.
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