Um ataque ao romantismo.


Dois pressupostos do romantismo: o sentimento é mais simbólico do que físico; sofrer é algo inerentemente bom. Atacar o problema precisa de um começo bem simples. O físico determina boa parte da nossa vida, mesmo que não possamos de forma categoria afirmar que ele realmente existe. Outro argumento importante seria que o físico só existe, na medida, que nós o pensamos simbolicamente. Por exemplo, se eu corto seu pulso com uma faca, você pensara tal ato simbolicamente. Você não terá certeza nem que isso realmente aconteceu segundo o cético. Suas sensações não são garantias de nada. Caso sejam, somente as suas teriam qualquer significado no simbólico.
            
Ignorarei tal discussão, pelo simples fato que o consenso social determina o contato físico como o fundamento de todo e qualquer tipo de relacionamento. Quero acusar o principio simbólico do romantismo; não existe razão em eliminar o físico em oposição a uma metafísica. Independentemente da quão bonita tal metafísica seja. Ao contrário, poderia se afirmar que qualquer simbólico é mais bonito com afirmações físicas do pensamento simbólico. Aqui os planos parecem, platonicamente, separados. Com certeza, tal processo é platônico uma vez que Nietzsche já determinou muito bem que nossas emoções se situam no nosso corpo, e que é uma ficção pensar de outra maneira. O físico importa.
            
Acuso o principio por uma razão: a insuficiência da metafísica. Um homem poderia tranquilamente imaginar uma namorada e passar toda sua vida com tal relacionamento. Acuso o principio de falsidade desse tipo de relacionamento. Não quero fazer um reduto absurdo em que o simbólico deixa de ser um componente importante; apenas desejo frisar o absurdo do argumento de uma metafísica platônica romântica desapegada de qualquer físico. O contrato social, romântico, é firmado de encontros; encostar-se à mão, apertar bochecha e abraçar. Coisas extremamente clichês.
            
Segundo ponto importante sobre o assunto; o sofrimento é inerentemente bom.  Foucault já destruiu os princípios de uma condição humana: critérios que estejam presentes em toda sociedade humana. Os estruturalistas trocaram o humano por estruturas, por uma razão muito boa: definir a humanidade é um troço, um bocado, complicado. Saindo de tal precisão, eu gostaria de poder afirmar que entre esses princípios decidir que logo o sofrimento é o melhor dos sentimentos é loucura. Riso, sorriso, cerveja, qualquer outra coisa, menos logo o sofrimento como inerentemente bom. Isso vem de uma confusão cristã entre: conhecer a si mesmo e cuidar de si mesmo. Em algum momento foi escolhido que renunciar a si mesmo para a salvação religiosa era mais importante que o cuidado subjetivo. O padre tinha que se submeter a uma autoridade que representava deus nos seus próprios pensamentos. Lutero já havia afirmado que homens não deveriam representar deus, afinal a experiência religiosa teria um que de místico. Escolher o sofrimento, mesmo que romântico, como bom em si mesmo é loucura. Vem da idéia altruísta invertida de que desde que você sofra por outra pessoa, tudo está bom. Você substitui um humano por deus no romantismo. Uma ética do cuidado pessoal significa renegar o essencialismo em oposição a uma criação de personalidade; a obra de arte é buscada como consenso invés do sofrimento como bom.
            
Resumo argumentos extremamente complicados em poucas páginas para poder dizer algo pessoal e realmente subjetivo: não é justo reduzir o que eu sou a um ente metafísico que não tenha existência real física. Fazer isso é um absurdo lógico, além de uma puta sacanagem. Só dizendo.

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