Figuras históricas.


           
Essa é minha final desistência. Dizendo ela, escolho por abandonar tudo. Eu aceito o fraco, o acaso e o nulo. Dado tal possibilidade, eu me entrego a total solidão. Eu lhe esperava há tanto tempo, porém agora nós estamos finalmente juntos; eu e eu. O medo e a solidão se encontram em total sincronia. O caos do mundo egípcio que se anuncia naquela imensa serpente que se imaginou matando todos os deuses. Os titãs levantando do tártaro pedindo a vingança. Eu sou aquele imenso buraco em que todos os homens se jogaram ao não conseguir dormir; ao não conseguir viver.
            
O nazismo impressiona por levar a mais dolorosa consequência o fato que os seres humanos são levados a partir do constrangimento social. A força do nazismo impressionou todos os filósofos, porque ele mostrou que, na prática, as pessoas são flexíveis a sanções negativas e contextos históricos desfavoráveis. Não penso nos heróis que salvaram milhões com muita determinação e coragem; penso nos milhões de covardes que simplesmente aceitaram tal realidade independentemente de quem lhes ordenava. Nesse sentido, os pós-modernos estavam certos de ligar Bentham e o nazismo. Bentham queria controlar o mundo do seu quarto. Ele pediu uma mulher em casamento, e ela lhe disse que sua inteligência e teu trabalho eram mais importantes.

Logo, ele passou o resto da vida criando uma imagem do humano a partir do calculo. Ele não era feliz, e queria a felicidade de todos. O nazismo e Bentham queriam controlar a aleatoriedade com toda sua subjetividade; dado que o acaso pode nos destruir como no caso da República do Weimar e a mulher falida, porque não simplesmente fugir de tudo. Bentham e Hitler, dessa forma, pensam o mesmo. Nós devemos fugir. Devemos fugir, porque sabemos o que o mundo é capaz. Bentham criou o panóptipo para se colocar no lugar do vigilante; seu tempo genial deveria ser medido em quantidade de felicidade pela mulher que o rejeitou; era justo e era necessário.
            
Os homens que resistiram a tal imprevisto são heróis. Penso principalmente em Crownhurst. O homem virou um símbolo daquilo que todos precisavam na guerra ideológica; um herói surgido, do nada, para provar que o capitalismo dava certo. Ele optou ser esse homem, apesar da possibilidade que ele fosse enlouquecer. Afastou-se da família por seis meses, sem contato com ninguém, simplesmente para provar que era o melhor homem; aquele capaz de provar a qualidade de uma vida inteira de injustiças. Ele resistiu enquanto tentava fazer a raiz quadrada de zero, porque ele sabia que todos precisavam de um símbolo, independentemente de quem ele era. Ele foi enlouquecendo aos poucos, porque ele não podia se reconhecer em qualquer fala alheia. Ele estava desesperado atrás de alguma identidade; seus últimos diários são loucuras de um homem que sabia que estava prestes a morrer e que sua identidade não existia, porque qualquer reconhecimento falhou. Qualquer identidade havia falhado, e ele se via totalmente perdido. Sem ninguém para dizer quem ele era. Ele não apenas reconhecia, mas sabia que ele era a total solidão. O fato de encontrarem ele morto e nu diz que há muito tempo ele sabia que era somente um buraco no chão das identidades reconhecidas que haviam lhe sumido. Sozinho no mar. Nu. Morto. Ele sabia o que ou quem ele era. Ele prometeu dar a volta mais rápida a barco no mundo, porém sem contato com a sua família e trapaceando, ele sabia seu final; a morte nu frente a um mundo inteiro decepcionado.
            
Meu último homem. Ignorou toda sua genialidade, enquanto trabalhava todo dia na construção de prédios. Foi preciso que alguém dissesse que ele valia alguma coisa, mesmo ele compondo e cantando todo dia as mais belas melodias. Foi preciso que alguém dissesse que elas eram ouro, para elas valerem ouro. Ele morria de fome; seus filhos não sabiam o que era alimento. O homem que produzia as mais belas canções. Enquanto trabalhava no posto, alguém o reconheceu. Deu-lhe dinheiro. Disse que suas músicas valiam a pena. Ele finalmente pode pagar condições de vida a sua família. Ele pode olhar para o seu pai e dizer que a vida valia a pena. Ele chorava porque o reconhecimento que ele buscava e quem ele era se uniram; apesar de todos os longos anos, mais de vinte, em que ele percebeu que sofria pobre longe de todos. Abastecendo gasolina em carros. O maior gênio musical brasileiro. Até um homem com todo o consenso social lhe dizer que ele podia existir. Assim como o utilitário dizendo o útil, o nazista dizendo o perseguido e o homem capitalista lhe dizendo o preço de mercado. Fuja. Por favor. Você entendeu o perigo. Cartola, preciso me encontrar. Assim como você. Me ajude.

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