Final feliz.


A criança alta era estranha. Ele tinha por volta de um metro e setenta centímetros. Ele andava olhando para o chão. Raramente falava. Poucas pessoas tiveram coragem de provoca-lo; todos se arrependeram. Ele era violento; irracional. Ele estava andando para a escola, até que ouviu um coro em uma igreja. Uma bela menina estava na primeira fila. Ele, com seus pobres doze anos, andou até a frente da igreja. Depois do coro, ele ficou na frente da menina mais bela do coro encarando o rosto daquela menina deslocada. Ela tinha olhos claros azuis, era silenciosa. Sua mãe havia morrido. Ela tinha doze anos, mas era já totalmente perdida. Ele disse:

-Oi.

-Oi-respondeu a menina.

-Você cantou bem.

-Obrigada.

-Você pode sair daqui?

-Não. Não posso falar com estranhos.

-Eu não sou estranho. Estava ali na frente vendo você cantar.

-Acho que tudo bem. Podemos sentar aqui.

Os dois sentaram no banco da igreja, enquanto o padre e os pais conversavam:

-Sabe, acho que você é a mulher mais bonita do mundo.

-Você vai conhecer outras mais bonitas.

-Vou não.

-Porque você é tão triste?

-Minha mãe morreu. Meu pai é rígido demais. Não gosto da escola. Não tenho amigos.

-Tudo bem. Eu também não tenho amigos.

-Você quer ser meu amigo?

-Quero. Quero ser seu namorado.

O pai olhou aquele jovem estranho falando com a sua filha, e se assustou. Sem dizer uma palavra, levou ela embora. O menino, sendo bastante esperto, deixou um bilhete na bolsa da menina com um horário e um local. No dia seguinte, na frente da escola dele, os dois se encontraram. Um diretor gritava com o menino alto. Ele estava muito nervoso. A menina viu isso, e ficou assustada. Aquele menino alto era confusão. Talvez ela fosse também. Ela teve que fugir do pai para encontra-lo. Ela começou dizendo:

-Você tem problemas na escola?

-Um pouco.

-Porque?

-Não gosto de estudar o que eles me mandam. É fácil demais. Daí, eu deixo todas as provas em branco. Mas quer ouvir meu segredo?

-Qual?

-Eu já li todos os livros da biblioteca. - Ele apontou para uma estante com mais de duzentos livros.

-Você é maluco.

-Você também. Porque seu pai te tirou aquele dia?

-Ele me protege demais depois que a minha mãe morreu.

-Sinto muito por isso. Sua mãe morrer.

-Eu sei. Todos dizem isso.

-Se servir de algo, eu nunca vou te abandonar.

-Você não pode prometer isso.- Ela disse quase chorando.

-Posso sim. Nunca te abandonar. Dito e prometido.

-Eu sou uma confusão.

-Tudo bem. Eu não ligo. Você aceita casar comigo?

-Casar com você?

-É, porque eu nunca vou te abandonar, mas se a gente casar, você nunca vai me abandonar.

-Eu prometo nunca te abandonar.

-Pronto. Estamos casados.

Ela sorriu. Os dois estavam sentados no banco de uma praça. Era cheio de árvores, e o chofer da menina já estava atrás dela. O pai estava muito nervoso. Os dois deram as mãos. Eles estavam sorrindo. O menino era extremamente estranho e desengonçado, enquanto a menina tinha um ar de bailarina. Era uma combinação estranha, mas eu gostaria de ver quem teria coragem de dizer isso a eles. Principalmente com tanto sorriso. Além disso, o menino alto era um pouco assustador. Bastante assustador.

O chofer achou os dois. Levou a menina embora, porém dessa vez ela foi mais esperta. Deixou um bilhete com perfume no bolso do menino; encontre-me no meu hotel na frente do lago. Por favor, não se atrase. Despistar meu pai não é fácil. Ps: eu te amo.

Os dois se encontraram na frente do lago. O menino enganou os seguranças com uma roupa de escoteiro e falando que iria vender biscoitos. Dois seguranças bem treinados enganados por uma criança de doze anos. Sinceramente, era só o começo do que ele iria se tornar. Além disso, ele iria ver a mulher dos seus sonhos. Sua esposa. Por favor, não errem a nomenclatura. Ele era o marido dela. Somente isso. Ele poderia entrar.

-Porque a roupa esquisita de escoteiro?

-Seu hotel é bem guardado.

-Tudo bem.

-O que você gosta de fazer?

-Eu gosto de fazer pinturas do lago. E de escutar essa música milhões de vezes repetidas.

-Sobre o que ela é?-Ela colocou uma fita no gravador.

-É sobre um homem que abandona deus, porque seu pai morreu. Ou ele abandonou antes disso, e seu pai morreu.

-Entendi. Você lembra-se da sua mãe?

-Todos os dias.

-Eu posso te ajudar com isso.

-O que?

-Lembrar-se dela. E do que você quiser.

-Você é legal.

-Obrigado. Você não é muito chata você mesma, não.

O pai dela chegou, e vendo aquela cena entrou em desespero. Ele não gostava daquele garoto. Afastou-a dele. Ele era um homem grande; era um advogado de sucesso. Ele era pequeno em comparação, mas mesmo assim. O garoto se levantou e olhou fundo nos olhos daquele homem:

-Eu não vou embora.

-Garotinho, você vai apanhar.

-Então me bata, mas eu não vou abandonar ela. Nunca. Assim como você não deixou sua mulher, eu não vou deixar minha esposa.

-Sua esposa?

-Ela aceitou.

Ele deu um soco no pequeno garoto, que não revidou e nem chorou. Ele olhou ainda mais fundo nos olhos daquele homem:

-Você vai ter que fazer melhor que isso. Muito melhor. Eu vou passar minha vida com a sua filha. Você pode aceitar isso agora. Ou aceitar depois. Eu não me importo.

A menina chorava sem parar. O pai estava espumando de raiva. O garoto estava com um belo olho roxo e nenhuma lágrima no rosto. Nenhuma lágrima. O pai levou ela embora, e colocou-a sentada no quarto de apartamentos deles:

-Esse garoto, filha.

-O que foi pai?

-Ele tem bastante coragem.

-Eu sei.

-Não magoe ele, tudo bem?

-Tudo bem.

Anos atrás, a mãe daquela menina havia tirado aquela mesma vontade que o garoto apresentava do peito do pai. Ele se viu nos olhos daquele imenso e estranho garoto. Ele nem ao menos cedeu quando tomou um soco. Ele não revidou. Ele só disse que o pai não tinha nenhuma chance contra sua vontade.

O imenso garoto chegou a sua casa. Os pais esperavam ansiosamente por ele. Ele tinha depressão clínica. Os pais tinham se preocupado com que ele virasse uma pessoa violenta, no entanto ele sempre teve um bom coração. Eles sentaram na mesa da sala:

-Filho. Você está bem? Você tomou um soco.

-Eu caí no chão.

-Porque você tá sorrindo?

-Eu tenho uma esposa.

-Uma esposa?

Os dois pais sorriram ao mesmo tempo, antecipando uma mínima salvação para aquele imenso e bizarro garoto. Uma esposa. Uma paz numa história onde só houve guerra e morte. Um final feliz dado a algo que no mundo real dos adultos haveria de ter acabado em tristeza. Um simples final feliz.

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