Criação.
Tenho
direito de te culpar por esse mundo. Foram suas palavras que fundaram minhas
metáforas. Você deu vazão ao que eu nunca havia conseguido dizer. As palavras escorreram
de mim torrencialmente enquanto eu olhava nos seus olhos. Não fuja da sua
culpa. Não diga que não é sua culpa o mundo metafórico em que eu vivo. Relendo
suas palavras, vejo que sou um resultado da sua criação.
Não foi o seu silêncio que me
ensinou a ser sozinho? Nem ao menos mais de vinte beijos você teve a coragem de
me dar. Eu me lembro de lhe dizer que cada um deles havia me tirado toda a dor
acumulada numa vida inteira. Relembro seus traços; seus sarcasmos. Será que
você aprovaria quem eu me tornei? Eu fui além do seu pior pesadelo; tornei-me o
rei da terra do nada. Agora não existem expectativas em mim. No entanto, não
existe ninguém.
Seu sorriso. Eu não me lembro de
mais nada. Do seu sorriso; recomponho todo seu rosto. Você ria quando eu dizia
que nunca te esqueceria, porém todos os dias da minha vida pensei em você. Não
te amo para sempre. Não quero ser seu amigo. Não quero conversar com você.
Penso em você todos os dias. Eu cumpri minha mais tola promessa de permanecer
com você no meu imaginário.
Eu lhe culpo por tudo que destruí.
Por tudo que eu nunca irei ser. Eu tenho direito. Você me encheu de silêncio e
não teve a dignidade de repor barulho. Você saiu andando com passos da
bailarina; retirando qualquer chance de vida. Você usurpou tudo em que eu
acreditava; você me deixou numa cama num país estrangeiro prestes a morrer.
Você nunca concebeu que eu existia; que eu deveria ser uma preocupação em sua
mente. Eu poderia ter morrido, e você nunca haveria de ter lembrado meu nome.
Digo-te meu décimo oitavo adeus, que
não se consome. Eventualmente, eu esqueceria seu rosto. Eu esquecerei o
significado da vida. O significado da moral. No entanto, todo dia até a minha
morte eu pensarei em você. Porque todo o inferno imaginário da minha mente, foi
criado e imaginado por você. Eu sou a sombra do significado que criei para
você. Agora, destituído de tudo, sou o não-significado. Sou simplesmente o medo
de todos que olharam para o abismo, mas não tiveram a coragem de passar suas
vidas dentro dele. Eu vivo ali, onde não existe nada.
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