Delírio Bêbado 4.
Pressupostos acerca da
existência. Procure ser feliz. Definição da felicidade: reconhecimento social.
Penso cada vez mais que a questão está mal posicionada. O reconhecimento social
é importante, mas ele deriva de outra coisa: do que nós pensamos sobre nós
mesmos.
Existem
milhões de formas de formular isso. Algum dia alguém talvez prove que é
impossível fazer um ponto entre eu e outra pessoa, mas a questão de novo está
mal colocada. Não me importa provar que você existe e que eu posso encostar-me
a você; importa somente se eu acredito que você está ali:
Se
após algum tempo, eu sei que existe alguém encostando na minha mão. Eu escuto
uma respiração forte invadindo meu peito. Não preciso provar que ali existe
alguém. Bom o suficiente é contar número de respirações sobre o meu peito
enquanto a música baixa de tom. Enquanto a lua abaixa um pouco; a manhã aparece
mais próxima. Mas nós nunca esperamos que a manhã realmente chegasse. Queremos que
o momento se imobilize num retrato devagar. Será que nossa vida é recriar a
expectativa de uma manhã que não vem. A lua desce contando os minutos ao redor
do mar, e eu sei que estamos pertos. Perto de alguma coisa. Um significado para
o que não foi dito. Não importa mais, as ondas do mar começam a bater sobre as
pedras. Eu sei que mais uma vez; elas vão voltar. Todas elas. Nos meus sonhos
mais malucos.
Um
dia me perguntaram acerca da realidade. Disse o que qualquer um diria: Se Dom
Quixote destruiu os dragões, então quem eu posso ser para questionar acerca da
sua realidade. Dragões invadem o céu. Roubam a lua. Resto somente eu para
roubar ela de volta, e entregar no seu colo. Seria um tolo a tentar me impedir
chegar até ela. Escuto o uivo das dores daqueles que morreram sem nunca saber se
havia alguém na sua frente. De novo, a questão está mal posicionada. Não me
importa provar que você está ali. Eu me importo em saber que sinto você ali;
próximo o suficiente da realidade. Assim como Dom Quixote e seus dragões destruídos.
Finalmente
retorno ao mito do eterno retorno. Assim como Dom Quixote estirado no fundo da
rua por defender uma puta. Estou aqui estirado na frente de um prédio; sentindo
o sangue invadir cada poro do meu ser. E sei que como Dom Quixote eu estou
lutando contra moinhos; minhas criações são os mais terríveis dragões. O mundo
achar que são meros moinhos não faz a mínima diferença. Escuto o rugido de tais
monstros invadirem a pobre sala enquanto a banda abaixa o tom. Eu dou a mão com
todos meus heróis e nós sabemos que chegou à hora de dizermos o coro acerca da
realidade. Eu sinto, logo eu existo. Eu não posso provar isso, mas como eu
disse: raramente importa provar algo; somente são simples argumentos. Matar um
dragão. Respirar no peito. Sentir o sangue invadir o corpo estirado. Viver.
Felicidade é diretamente proporcional ao que você pensa de si mesmo, mesmo que não haja reconhecimento social, que, de fato, pode ser uma consequência do que você pensa de si mesmo.
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