Fantasma.

Respira fundo. 20 segundos. 20 malditos segundo e está tudo acabado. Ele está rindo, eu sei disso. Desde o dia que nos conhecemos, eu sabia que acabaria desse jeito. Ele me mataria, mas não desse jeito. Eu sempre contava meu medo de bombas explodindo enquanto o sangue se espalhava quase sem cor ao meu redor. Ele sabia. Quando nos conhecemos no ensino fundamental, ele não ria. As outras crianças riam ou pelo menos fingiam não saber o que estava acontecendo. Você sabia. Você quebrou as proteções dos computadores antes de ter 10 anos e soube. Você nunca aceitou o que estava acontecendo com a gente. Quando ambos fomos selecionados para a adoção por causa dos testes de inteligência, você não aceitou. Você queria ficar e ser morto. Eu me lembro das suas palavras:

- A melhor forma de pessoas matarem milhões de outras é primeiro esconder. Ninguém mata sendo televisionada, você precisa isolar as pessoas. Você precisa fazer com que pensem que elas não têm almas. Que elas não merecem viver com você. O que é nossa escola de ensino médio? Um grande prédio isolado de qualquer cidade. Ninguém sabe sobre nós. Ninguém quer saber sobre nós. A morte de crianças e adolescentes não importa se milhões de homem gordos ricos podem viver mais um par de anos. Isso não é discutido. A empresa criou uma polícia para regulamentar onde estamos e o que planejamos. Nossa vida é vigiada. O mundo inteiro aceita o que está acontecendo.

Com malditos 12 anos de idade, você já sabia de tudo isso. Por isso, você não sorria. As aulas inteiras eram ignoradas por você a não ser que tivesse um interesse direto no que você queria fazer. Internet, química, física e comunicação eram as matérias que você prestava atenção. Claro que você sabia fingir nas outras, mas essas aulas eram sua salvação naquele inferno que você apelidava de holocausto. Eu jurava que nada disso ia levar a lugar nenhum até que você recebeu um e-mail estranho que me deixou ler:

Filho,

Antes que a defesa que você levantou no computador quebre, leia minhas últimas palavras. Eu criei vocês. A tecnologia usada veio da minha mente. Eu não tinha ideia que eles matariam milhões de crianças para salvarem suas vidas. Eu deveria ter adivinhado. Eu deveria ter explodido todos eles. Eu tenho pouco tempo. Eu criei humanos com capacidade acima da média, você sendo um deles. Criei material genético capaz de usar todo o potencial do cérebro. Você sabe o que fazer com isso. O holocausto foi tão cruel comigo, porque nossos próprios amigos ajudavam a polícia. As pessoas recebiam noticias mentirosas sobre quem morria. Matar homens desorganizados isolados da sociedade é uma coisa, agora lutar contra um grupo clandestino bem organizado é outra coisa completamente diferente. Você é minha única esperança. Eu não acredito que sobrevivi a Dachau para ter que ver as mesmas atrocidades sendo feitas pelos meus companheiros de guerra. Meus olhos choram, enquanto minhas palavras acabam.

Nesse momento, o computador pifou. Os outros computadores estavam ligados em uma mesma página: a cruzada. Um nome engraçado para uma corporação beneficente. Você sorriu enquanto quebrava as defesas do site e encontrava uma organização secreta montada. Eles precisavam de um líder. De um mito. Você seria esse mito.

Quando explodiram nossa escola do ensino médio, eles queriam você. Que droga, os nossos amigos mortos porque você não sabia se conter. Você espalhou a noticia que seriamos mortos. Você causou o pânico entre nossos colegas. O segredo se espalhou por toda a escola e não havia outro assunto. Os professores acabaram descobrindo e acionaram a sentinela. A organização paga para nos vigiar e matar. O dia em que eles mataram sua escola inteira, você disse que eles iam pagar caro. Foi a primeira vez que te vi sorrindo.

Dois homens vinham batendo na mulher no centro da sala por horas. Eles queriam alguma coisa sobre o menino conhecido como fantasma. Qualquer coisa. O mais forte deles usavam um método com agulhas para causar dar a todos os meus nervos:

- Você sabe de algo.

-Sei.

-Você não vai contar.

-Bingo.

O sangue jorrava do meu braço, enquanto eles torciam a faca contra os meus dedos. Eu sentia minha pele se desfazer, meu limiar de dor se expandir:

-O que ele fará agora?

-Você realmente quer saber?

-Sim.

-Ele vai explodir esse lugar. Inteiro. Em 20 segundos.

- O que?

- Esse é o lugar mais seguro do mundo: blá, blá, blá. Você realmente não conhece com quem você está lidando.

-Me conte com quem eu estou lidando.

Ele quer te conhecer, tudo bem. Você tem grandes olhos negros. Você nunca sorri ou sente empatia. Você é a máquina bem construída que seu pai fez você ser. Uma missão: matar a sentinela. Um sonho: matar a sentinela. Um amor: seu pai. Eu nunca soube qual era o meu papel nessa história. Eu segui você quando fugi da escola, mas logo me separei. Não havia perdão para alguém que se separava de você por outros, eu sabia disso. Não importava para você palavras como amor, paixão ou sentimentos. Você queria lealdade.

- Você está lidando com um menino que com 15 anos criou um site que começou os protestos. Ele conseguiu fotos de vocês criando as crianças. Ele conseguiu fotos dos órgãos sendo retirados. Ele escreveu textos inflamatórios sobre a proximidade do que vocês faziam e o holocausto. Ele transformou a opinião internacional contra vocês. E agora, ele decidiu ficar violento.

-O site dele foi quebrado.

-Vocês não deveriam ter feito isso.

-O que você quer dizer?

-Agora que as pessoas sabem, o próximo passo é destruir.

-Como assim?

-Seu tempo está acabando, coronel. Muito rápido. Conte até 20 respirando baixo. Vamos lá.

-Nada vai explodir sua criança tola- O homem imenso continuava a usar as agulhas e o outro começava a cortar meus dedos. Eles não entendiam que não fazia diferença porque tudo ia acabar logo. Respire fundo, método de meditação. Conte até 20.

Um homem com olhos fortes entrou na sala e expulsou os outros dois. Ele estava com raiva nos olhos pelo o que havia acontecido comigo. Meus dedos tinham sido cortados, eu gritava de dor. Ele disse numa voz apaziguadora:

- Você sabia que seu namorado não é especial?

- Sabia.

-Há quanto tempo?

-Eu quebrei o site deles também. Várias pessoas receberam aquele e-mail. São células. O pai dele planejou isso com dedicação. Milhões de homens envolvidos nas maiores organizações do mundo. Gênios e líderes mundiais. Cada um achava que tinha que fazer o último sacrifício. Assim, você ganha uma guerra.

-E agora?

-Agora você explode esse lugar inteiro, fantasma.

Você tinha criado os e-mails falsos e enviado a cada menino inteligente que era um de nós. Você inventou seu próprio pai. Ele havia criado meninos super-inteligentes com o DNA, mas você transformou isso em uma organização.

Quando os guardas escutaram que você era o fantasma, um alarme tocou. Eu sorri:

-Tarde demais.

-Eu sei, tarde demais.

Você disse que me amava. Segurou minha mão. Era uma mentira, você não conseguia ter sentimentos. Seu cérebro avançado impedia com que você tivesse sentimentos tão idiotas. Uma imagem invadia cada televisão no país, enquanto o maior prédio de segurança do mundo era explodido em mínimos pedaços. Os homens que deveriam nos vigiar estavam mortos. Sua organização estava acabada. Você dizia nas televisões:

-Isso é um aviso. Eu destruí a sentinela, mas eu sou só uma imagem. Eu estou morto. Vocês sabem que o que fizeram foi errado. Pessoas não deveriam viver para sempre. Crianças e adolescentes não deveriam ser mortos para isso. Não acredito num deus ou nem mesmo num sentido da vida, mas isso está errado na minha pele. Eu sinto isso, assim como cada um de vocês deveria sentir. Vocês fingiam ignorância para melhor passarem, mas agora eu joguei tudo na cara de vocês. Se isso acontecer de novo, não existirão segundas chances. Eu plantei bombas atômicas estrategicamente por todo o mundo. Qualquer país que continue com organizações como a sentinela estará destruída. Com muito amor, seu amigo favorito de todas as horas, Fantasma.

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