Avô.

-Avô! Avô! Avô! Acorda e me conta aquela história.

- Qual?

- Aquela que você me contava quando pequeno.

- Porque filho?

- Porque não entendo mais aí fora, nada parece ser ou ficar. Tudo é tão rápido. Parece que namoramos coisas trocáveis a cada segundo. Não vejo mais o amor.

- De onde vem tanta tristeza, pequeno? Nunca te falei que um riso ganha mais multidão que uma reclamação?

- Perdi meu sorriso, velho.

- Você fala besteira, garoto. Besteira. Abre a cerveja e se cale.

-Era uma vez o maior império já visto pelo homem. De um ponto central da cidade, prédios e prédios se alastravam. Todos eram ligados ao ponto central, onde morava o Deus sol na terra: o imperador inca. As guerras nunca acabaram até a unificação do império sobre um Deus, ou seja, um homem impiedoso que a tudo e todos dominava. Ele havia se auto-intitulado o homem mais forte do mundo, e na verdade ele era. Ele só não sabia que tem forças que não se medem. E agora surge o herói da história, o nome era...

-Ollantaya!

- É, Ollantaya era o nome do general.

- O que morre no final, certo? Infeliz, sozinho e sem esperanças?

- Acabe sua cerveja e deixe-me acabar com a história, que saco.

- Ele um dia se apaixonou pela filha do Deus sol que tinha o nome dado por causa da lua que mudava. O maior general do império apaixonado pela princesa. Era proibido. A camada superior de nobres eram os únicos que podiam casar com a mais bela mulher do reino. Ollantaya poderia casar com qualquer uma, era o general mais poderoso da época. O problema é que existem homens que não quebram, que sua vontade não some, não apaga, ela só existe.

- Mas pensa avô, se ele por um momento tivesse decidido outra, ele estaria vivo, teria se tornado o maior general que já viveu em todo mundo.

- Do que adianta uma vida?

- Não sei, mas a morte é que sei que não é!- Enquanto girava o último gole de uma cerveja e abria o uísque.

- Posso continuar, ou você vai continuar choramingando? Ollantaya não sabia o que fazer, mas ele a teria ou seria a morte em batalha. O deus sol descobriu o amor proibido e imediatamente o mandou para as mais perigosas missões, mas não havia nada que o matava. Nenhum monstro, nenhum guerreiro, nada. Ele sempre saia vivo, aquele maldito idiota. Até que um dia ordenou sua morte por desrespeito a ordem divina da nobreza ao engravidar a princesa.

-Agora, o herói está sem chance, distante do filho e da mulher que ele ama. Super história, avô.

- Ele junto com seus soldados fiéis montaram o maior monumento a amor já visto, o vale sagrado se tornou o vale onde ele fez sua resistência ao homem mais poderoso do seu tempo: ao homem considerado um deus do sol.

- Por quê? Isso não tem sentido prático nenhum, qualquer mulher do reino! Riquezas, poder, ele já tinha tudo.

- Do que adianta uma vida?

Ele dormiu finalmente, um homem totalmente sem fé, com idade suficiente para ter aprendido que a esperança como reza o velho e esquecido ditado infelizmente é a última a morrer. Quando Pandora abriu a caixa com todas as mazelas do mundo, a primeira a se libertar foi à dama esperança, que se deitou silenciosa enquanto via o mundo quebrar. Ele pensava como Prometeu havia sido castigado por dar os fogos aos humanos, e ele pensou que de alguma forma os homens também haviam sido castigados.

- Avô!Avô!Avô! Não consigo dormir, têm monstros no armário da sala, eu tenho certeza. Me ajuda a derrotá-los?- A criança sorria, desejando um mar de aventuras sem fim.

- Claro! Neto. Já pegou a espada secreta?

- Você está falando do cabo de vassoura? Eu tenho oito anos, você sabia?

-Vamos, eu te conto uma história antes de dormir.

- E os monstros?

- Eu cuido deles sozinhos, essa é a tarefa que você ganha quando adulto.

- Era uma vez...

- Toda história sua tem que começar com era uma vez?

-Era uma vez um soldado raso, ele estava de guarda no maior festival da idade média. No momento em que a filha do rei passou, ele soube. Soube como só uma vez na vida se sabe: o amor sorriu. O que um pobre soldado poderia fazer em termos de conquistar a filha do rei: nada. Finalmente, um dia, depois de anos a esperar de guarda ele conseguiu conhecê-la. Ele disse que não conseguiria viver sem ela, nem por mais um segundo. Impressionada, ela disse que seria dele, desde que ele conseguisse resistir por 100 dias e 100 noites. Sem pensar ,no mesmo dia, ele começou a esperar debaixo da sua janela. Ele nunca se moveu durante a chuva, vento, neve, ele sempre estava no mesmo lugar. Os pássaros sentavam nele, as abelhas o picavam, as pessoas caçoavam, mas ele não cedia. Depois de 99 dias, ele estava todo seco e branco, e as lágrimas estavam descendo dos seus olhos. Ele simplesmente não conseguia as conter. Ele não tinha força ao menos para dormir ou comer. Todo o tempo, a princesa o olhava. E na última noite, ele se levantou, e foi embora.

- Avô, porque ele fez isso?

- Em mais uma noite, ela seria dele. Ela nunca poderia possivelmente cumprir sua promessa. E isso o teria matado. Dessa maneira, por 99 dias, ele viveu sobre a ilusão que ela estava ali, esperando por ele.

- É isso então, danado!

- O que pequeno?

- Do que adianta.

- Adianta o que?

- A vida.

- A espera?

- Não, a espera não é o amor? A ilusão não é o que queremos viver? A força não é 99 dias em pé?

- Você pega rápido, talvez seus professores estejam certos sobre você ser espertinho.

Ele levanta de ressaca, seu avô espera com um belo copo de café, enquanto sorri:

- Dormiu bem?

- Você sabe que não, velho.

- Você percebeu que todas suas histórias acabam com homens infeliz, mortos e acabados?

- Claro que não!

- O Ollantaya e o soldado morrem, e ainda sem qualquer felicidade.

- Boboca!

- O que?

- Boboca!

- Você vai ter que elaborar mais do que boboca.

- Sorrir que nem um boboca.

- O que isso quer dizer?

- Eles morreram sorrindo que nem uns bobocas.

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