Traição.



A mulher acordou na cama. Uma cama colonial com enormes cortinas brancas. O homem ao seu lado dormia profundamente. A mulher era loira, tinha olhos azuis, era bem magra e tinha a figura de uma linda bailarina. Ela era linda, mas de uma maneira essencialmente esquisita. O seu nariz era pequeno e pontudo, sua boca era pequena.

Ele havia dormido e esquecido do alarme, o inferno ia cair sobre aquela casa. Não existiam culpados, ou assim ela pensava. Explicar a negligência e a falta de atenção era difícil. O amor existe ou pelo menos existiu algum dia. Ela passava os dias de folga do hospital sozinha, e um dia decidiu não ficar sozinha.

Ela havia cansado de esperar. Sua vida tinha sido esperar por ele e agora ela não aceitaria esperar mais tempo. A grande companhia que ele trabalhava teria que esperar. Um dos problemas de hoje em dia é que vendemos nossa vida muito barato, até nosso amor. Atenas tinha sido seu nome, apesar de que nenhuma sabedoria tinha sido aplicada quando ela esqueceu o despertador.
“Não se preocupe”- Ele disse com olhos desejosos. “Seu marido sempre trabalha até tarde”. Ela não amava aquele homem, mas com certeza gostava do seu jeito.


O homem acordou na cama branca sorrindo. Aquela mulher havia sido a descoberta do seu mês, ele sempre havia tido uma queda imensa por bailarinas. Ele era alto, branco, olhos e cabelos pretos. Tinha uma figura quase forte, mas que mostrava incrível desespero. No seu braço estava escrito animus. Ser uma pessoa que parou de se importar não impede o conhecimento da língua grega.

Ele realmente não amava a garota, mas como gostava do seu jeito principalmente sua imensa força para uma figura tão magra. O homem seguia seu instinto, sua força, sua paixão, seu animus. Ele realmente não se importava com todas as casualidades da vida. Não ligava se era casada, viúva, lésbica ou o que quer que fosse. Seu coração tinha mais gente que ponto de ônibus.

Ele a conheceu no hospital. Disse que queria um bom tratamento de uma médica tão linda. Antes que ele percebesse já estavam numa sala escondida. Ele era desesperado, precisa de amor e sabia identificar pessoas como ele. Essa era sua qualidade, nada mais ou menos que isso. Ele sabia sentir aquele olhar de desespero.

Seu nome era Dionísio. E disse com olhos despreocupados: “Não se preocupe, seu marido sempre chega tarde”. Dionísio não se importava tanto com dinheiro ou a sociedade em si. Ele havia se vendido para si mesmo há anos atrás. Não que ele fosse uma má pessoa ou não ajudasse o mundo, ele simplesmente era um homem redentor.


Ares havia acordado ás seis como de costume para trabalhar. Ele passava seus dias trabalhando de oito horas da manhã até nove da noite. Ele passava o dia pensando em Atenas. Ele nunca acreditou na sua sorte, ele havia feito uma promessa silenciosa a si mesmo no dia em que a conheceu. Ele havia prometido amar aquela mulher da melhor maneira possível. As contas eram apertas, mas não tinha nada que Ares não faria para ganhar a guerra.

Ele tinha a mesma rotina todos os dias. Chegava além da hora em casa para ver sua mulher dormindo silenciosamente. Ele beijava sua testa, e a cobria com seu cobertor favorito dado pela sua avó. Ele sabia que eram momentos difíceis, que ele estava dando menos atenção, mas na vida tem que se estar disposto a fazer sacrifícios para chegar em qualquer lugar.

Finalmente a tão sonhada promoção foi dada a Ares. Ele comprou o melhor vinho da loja. Até o feirante parece num bom dia:
- Bom dia Ares, faz tempo que você não visita minha humilde loja.
- É sempre um prazer, Humberto. Hoje as coisas mudaram você sabia?
- Não, o que de tão bom acontece?
- Fui promovido, acabaram as horas longas no trabalho.
- Corra para casa, Atenas ficara feliz em saber, eu realmente acho que vocês vão dar certo.
- Obrigado, Humberto. Sempre posso contar com você para um ótimo vinho.

Ele saiu correndo do trabalho, evitou as comemorações pela promoção e simplesmente foi para casa. Ele assobiava uma das mais lindas músicas de amor em sua opinião. Ele sinceramente achava que depois dos Beatles, as bandas simplesmente não conseguiram chegar perto. O assobio era escutado por toda a quadra, até que ele chegou à beira do quarto. A porta estava meio aberta, havia roupas por todos os lugares. Seus olhos rapidamente se encheram de lágrimas. Ele avançou como se indo para um campo de batalha com mil minotauros. Sua coragem era surpreendente, no duro.

Atenas gritou com a surpresa de Ares. A verdade é que ela não sabia o que esperar. Ares nunca daria o tipo de corno manso. Ele foi para a outra sala, e rapidamente deu um soco que abriu um tremendo buraco na parede. Ele estava chorando, de uma maneira desesperadora. Ele olhou fundo nos olhos de Atenas e disse com uma força fora desse mundo: Adeus.

Nunca mais Atenas viu Ares na sua vida. No seu trabalho, na sua casa ou em qualquer lugar. Ares sumiu assim como o vento que ela sentia no rosto. O esquisito é que ela nunca tinha percebido que não estava sozinha. Assim que ele disse Adeus, o desespero batia a toda hora, todo momento, todo minuto. Não adianta o número de Dionísio que viesse, ela definitivamente estava sozinha. Ares foi para algum lugar longe, consertar seu coração quebrado.

O irônico de tudo isso é que uma simples palavra começou e terminou tudo

Comentários

  1. Gosto muito da mitologia grega,embora não a conheça bem como gostaria. Gosto muito dos teus textos também, mesmo que ainda não tenha lido muitos. Estava toda contente com o que eu acabei de postar, aí vem você com isso e acaba com o meu orgulho. Porra,Trovão! UASHDUAS
    Parabéns (: Foi mesmo uma boa idéia.

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