Sobre dragões e parentes distantes.



A menina havia acordado depois de sair, ela não estava com nenhuma calma para encarar a mãe, a festa havia sido boa, talvez até demais. Ela tinha média estatura, tinha cabelos castanhos assim como belos olhos da mesma cor. Ela era morena, mas bem claro o que dava a impressão de leveza. O problema é que a descrição de aparência sempre falta algo, um charme adicional. A mãe tinha arrumado a mala e estava gritando para ela ir pegar o trem. A menina tinha porque tinha que visitar sua tia avó doente, sua mãe fazia questão que ela fosse. O trem ainda tinha uma parada muito esquisita, que tipo de trem teria como parada o número menos nove.

Ela se arrumou rapidamente, já se irritando por ter que deixar a cidade para visitar um parente distante. Ela tinha amigos, amigas, todo o esquema de férias na cidade e sinceramente passar muito tempo com a sua tia avó não parecia minimamente divertido. Sua mãe, uma bela mulher por volta dos 50 com longa silhueta a abraçou forte e disse que a amava. A mãe parou e disse com olhos bem sombrios:

- Cuide de si mesmo, e lembre-se que eu estarei aqui esperando.

- Está bem, mãe, te amo também.

Ela foi para a estação de trem de taxi, um longo e amarelo taxi com um taxista extremamente estranho. Ele tinha o taxi inteiro por dentro pintado com cores laranja, e preta em forma de listras. O dia para ser sincero estava estranho, e ela logicamente culpava a bebida da noite anterior. Certo, ela havia bebido um pouco, ou melhor, ela tinha bebido um pouco demais. Ela não podia pela idade, mas a verdade é que ninguém observa isso direito, nem ela. A estação estava completamente deserta, nenhuma pessoa. Era uma velha estação e ela começou a procurar pela estação menos noves. Foi até a parada deserta número um, a parada deserta número dois, e então percebeu: menos nove vinha antes de um. De repente, surgiu um buraco logo depois da parada número um e uma longa seta brilhando apontando parada menos nove.

A menina começou a rir, ela não deveria ter acordado. Só pela curiosidade do sonho, ela resolveu ir e olhar o que tinha no buraco. No momento em que seus longos cabelos castanhos ficaram perto do buraco, ela foi sugada. A primeira coisa que ela percebeu quando levantou era que estava em algum tipo de jardim. As flores tinham todas as cores: rosa, vermelho, lilás, azul, verde, cinza, preto, branco e qualquer cor imaginável. E todas as cores formavam desenhos ou figuras. Um gato extremamente branco estava sentado:

- Bom dia, Marguerite.

-Você podia só me chamar de Maggie, não é culpa minha que minha mãe gosta de escritoras de outros países com nomes estranhos. E afinal como você sabe meu nome?

- Eu sou o dono da porta, me chamam de Arquimedes. Eu deveria saber seu nome, se você quiser entrar, não?

- Sim, mas como você sabe? Minha tia avó te contou?

- Como você sabe seu nome?

- Você poderia parar de responder perguntas com mais perguntas?

-Posso? Você pode passar, seu nome está na lista. E boa sorte garota, sua tia avó é gente da melhor qualidade.

Ela começou a seguir uma pequena estrada de tijolos prateados, e havia uma placa muito grande e brilhante apontando para um lugar. Ao olhar pela distância havia um vilarejo com várias casas de todos os tamanhos e jeitos. Uma desorganização sem tamanho, uma casa pequena do lado de uma casa grande, diferentes cores, algumas em formato quadrado e outras em formatos circulares. Havia até uma casa que era idêntica a um cavalo marinho.

A tia avó estava a esperando na entrada do vilarejo, e ela segurava uma carta escrita com cor vermelha sangue.

- Tia avó?
Silêncio.

A tia avó não se movia, ela parecia uma estatua. Um gato branco idêntico ao da porta chegou, a única diferença com Arquimedes eram as listras pretas no corpo. O gato gritou com a maior força possível:

- Pegue a carta, e corra garota. Os dragões estão chegando.

- Você realmente acha que eu vou acreditar em dragões?

- Me siga.

Antes que qualquer pessoa pudesse dizer betterjuice, um dragão vermelho com longas escamas e com mais de seis metros começou a voar por cima da cidade. Um dragão, realmente alguém deve ter colocado algo na bebida dela. O mais estranho é que o dragão não era igual aos desenhos, e era simplesmente assustador. Ela começou a correr atrás do gato branco com listras pretas.

O gato branco com listras pretas trazia uma insígnia no peito, ele deveria ser a policia do lugar. Maggie correu com todas as forças tentando acompanhar o gato que corria pelas ruas prateadas evitando as casas esquisitas. O gato e a menina se mantiveram nessa tensão por minutos até que ele chegou numa casa extremamente cinza.

A casa em si parecia normal, mas na verdade tinha algo esquisito nela. A casa parecia totalmente tomada por magia. Existia até uma placa na frente da casa escrita: A casa do mago.

Ao entrar o gato disse rapidamente olhando com seus fortes olhos azuis penetrantes:

- Fique aqui até a luta acabar, o mago te falará sobre o que você precisa saber.

- Mas quem é você?

- Ótima pergunta, quem é você?

- Gato, um dragão acabou de passar pela minha cabeça, você poderia ao menos dizer seu nome.

- Ah, sim, meu nome é Nostradamus, sou o gato do mago. Entre logo, ele odeia esperar e a casa vai mudar de local daqui a poucos minutos. Sabe, ele adora evitar as bolas de fogo acertando ele.

A menina olhou totalmente perplexa para o gato, sem saber o que fazer, e ele gentilmente a empurrou na direção da casa. Maggie correu e a porta já estava aberta.

No momento que ela entrou houve um grito enorme de um leão. Ela foi até a sala principal, e finalmente viu o mago. O próprio quarto já declarava como o mago seria. Tudo estava desorganizado, diversos papéis com desenhos na parede, e havia várias corujas falando entre si. Havia livros e mais livros pilhados e outros abertos na metade. O mais interessante é que a vista para o céu era completamente transparente, ela sabia que havia uma parede ali, mas ao mesmo tempo sabia que podia ver o céu como se a parede não existisse.

O mago era um velho com uma longa roupa totalmente branca, parecia até que ele era o papa, mas sem o chapéu engraçado. Ele era careca e extremamente pequeno. Tinha longos olhos negros altivos que poderia penetrar numa alma. O mago olhou surpreso para Maggie e deu um longo sorriso. A menina se assustou com seu olhar, e ele logo começou a dizer:

- Maggie, não se preocupe, eu sou um bom amigo da sua tia avó e quero responder todas suas dúvidas.

-Como você é tão velho?

- Na verdade, eu fiz um feitiço para que você me visse exatamente como eu quero que você me veja.

- Vocês por aqui nunca deixam as coisas simples?- Disse ela num tom raivoso.

- Pensei que isso te deixaria mais tranqüila, mas prometo que depois verá minha forma verdadeira. – Disse com força.

- Bem, o que é aquela coisa branca brigando com o dragão vermelho?

- Ela é uma dragão branco chamada Ifriti, e ela que deixou sua tia avó como pedra.

- Por que minha tia avó me deixou a carta?

- Eu acho que você já sabe essa resposta.

- Ela queria que eu parasse dois dragões de brigarem e colocasse a paz nesse mundo?

- Bingo, minha doce garota.

- Não seria mais fácil eu derrotar alguns orcs ou seres voadores antes, eu tenho que começar com dragões?

- Leia a carta, eu vou te ajudar. - Disse ele ignorando o sarcasmo.

Ela abriu a carta com cuidado e nela estava escrito com tinta extremamente vermelha: “o que é o que é que quanto mais se tira, maior fica?”. Não bastava a tarefa de lidar com dois dragões gigantes num mundo desconhecido, agora ela tinha que descobrir a resposta. O mago sorria incessantemente, e esperava uma resposta. Maggie estava realmente nervosa. Ela disse triunfante:

- Eureca, já sei, a resposta é um buraco.

- Vamos tentar, mas lembre que sua tia avó adorava pegadinhas. - O mago respondeu de volta com um olhar triste.

- Nós teremos que ir à floresta aterrorizante. – Disse animadamente.

- Essa é uma brincadeira, certo? A floresta na verdade é calma e você quis fazer graça. - A garota disse com olhos cheios de esperança.

- Não foi você que queria as coisas mais simples?- Respondeu o mago com um sorriso meio-aberto.

A casa se movimentou como num passe de mágica para frente de uma floresta extremamente densa. As árvores pareciam ter mais de trezentos anos e todas tinham um aspecto sombrio. Pequenos animais andavam por todos os lugares, principalmente insetos que Maggie nunca tinha visto antes. No começo da floresta havia uma placa bem grande escrita “Floresta aterrorizante, por favor, não entrar”. O mago ria como uma criança. Nada era dito, a tensão era clara entre os dois. A menina se sentia perdida, e o mago parecia não ceder muito às dúvidas dela. A noite ia caindo cada vez mais rápido, e parecia que a própria floresta se movimentando tinha criado essa escuridão. De tempos em tempos, Maggie sentia que as árvores se movimentavam, e ficava cada vez mais assustada. O mago disse sorrindo:

- Hora de acampar.

- Você poderia dizer onde estamos indo?

- Encontrar alguém que faça um buraco do tamanho de dragões.

- E vamos passar a noite nessa terrível floresta?

- Não se preocupe, só um animal pode passar as barreiras que vou erguer.

- E ele é bem manso?

- Eu acho melhor você não saber a resposta dessa pergunta.

A noite parecia não ter fim, e Maggie não conseguia dormir. O mago já tinha dormido logo após colocar as proteções ao redor do acampamento improvisado, as proteções pareciam amuletos da sorte que não parariam nem uma mosca. O mago sorria incessantemente enquanto dormia. A floresta tinha um barulho à noite que se assemelhava a música, e Maggie ainda tinha medo do que tinha no escuro. Maggie estava sentada numa árvore que o mago tinha tentando transformar numa simulação do que seria uma cama quando ouviu o grito de leão, o mesmo grito de leão que tinha escutado na casa do velho mago. Um lobo enorme cinzento estava entrando, e os amuletos não pareciam incomodar. O mago tinha desaparecido, e Maggie começou a gritar desesperadamente. O lobo se preparou para atacar abrindo a boca e salivando, mas no momento que ia pular, algo surgiu. Um urso totalmente branco, ainda maior que o lobo, atacou ferozmente e atirou com todas as forças o lobo pela floresta a fora. Maggie ainda gritava como uma louca quando o urso se transformou no mago de novo. Ela estava tão nervosa quando gritou:

- Você poderia ter me avisado que podia fazer isso.

- Eu não te disse que as pessoas me viam como eu queria que elas me vissem?

- Sim, mas, mas, mas, mas você podia ter me avisado!

- Você está salva, não?

- Você realmente podia ser mais direto. Posso dormir perto de você?

- Sim, pequena. A floresta pode ser bem perigosa à noite.

Maggie colocou sua cabeça gentilmente apoiada no ombro do mago, e o mago deu outro meio-sorriso. O mago sabia que a floresta não estaria mais perigosa depois do lobo estar derrotado. Ele sabia que não havia razão para ela ficar perto dele. O mago sabia mais coisa do que deveria. E ele próprio começou a pensar sobre isso enquanto tentava limpar a sujeira que caíra sobre o cabelo da garota enquanto a luta acontecia.

Maggie acordou cercada de corujas de todos os tamanhos e um bilhete estava escrito na maior delas que tinha um tom preto com listras laranja: “Fui resolver como conseguir um buraco com tamanho para dragões, Toupeiras nada amigáveis, volto em pouco tempo”. Ela acordou, e havia todo tipo de fruta perto dela. Nenhuma fruta era conhecida, mas isso não impediu que ela comesse com rapidez a fruta azul que lembrava muito amora. O mago voltou no final da manhã e juntos saíram daquela maldita floresta.

Horas depois, ambos se encontravam na porta da casa dele. O mago estava olhando como se soubesse que a batalha final chegaria, e tudo que ele queria era manter Maggie em segurança. A casa se movimentou instantaneamente para o centro da cidade, o mago começou a flutuar e antes que saísse voando para fora da casa ordenou num tom solene:

- Fique aqui, está na hora de parar os dragões.

O mago saiu com um sorriso, mas ele estava morrendo de medo. Ele nunca havia ligado para a sua saúde, para derrotar dragões é preciso determinação e alguns machucados, mas a garota não tinha nada a ver com isso. Ele voou diretamente para o centro da cidade cercado por corujas de todas as cores, e começou a fazer um barulho ensurdecedor que com certeza chamaria a atenção dos dois dragões. Glaerd, o dragão vermelho veio rapidamente pronto para matá-lo com as presas á mostra. Ifriti, o dragão branco veio na mesma velocidade. Na direita vinha um grande dragão mortífero vermelho, e na esquerda um grande dragão mortífero branco. Ele estava acabado para todos que olhavam embaixo, e isso incluía Maggie. Segundos antes dos dois acabarem com ele, o mago numa velocidade incrível colou um pequeno selo na testa de cada um dos dragões. Cada uma das suas mãos parecia fazer flutuar cada um deles. Ele estava com ar triunfante quando começou a falar:

- Vocês estão paralisados, e a única coisa que impede vocês de caírem no chão é meu feitiço.

O mago rapidamente jogou Glaerd num buraco gigantesco, e nada aconteceu. Ele rapidamente trouxe Glaerd de volta para as alturas com Ifriti. O feitiço o estava cansando rápido, os dragões eram extremamente pesados. Ele gritou:

- Buraco não é a resposta, maldições, você deveria ter falado diretamente.

- Quem era aquela garota gritando perto da sua casa, mago?- Disse Glaerd com um sorriso doentio.

- Eu adoraria transformar ela em pedra. - Ifriti disse com a mesma intenção assassina.

- Que tal vocês deixarem ela fora disso? Venham atrás de mim, mas não cheguem perto da garota. Isso é uma ordem. - Respondeu agora com muita raiva.

Gertrude, sua velha maldita. A resposta não era buraco, e o mago percebeu isso no momento em que ficou vermelho de raiva dos dois dragões por pensarem em matar Maggie. Ele não gostou nem de pensar na idéia de Maggie morrer sem ficar totalmente irracional. O motivo por Maggie estar ali era para o mago poder descobrir a resposta. A resposta para o que quanto mais se tira, maior fica é coração. Aquela velha realmente pensava de maneira diferente.

- Que tal vocês acabarem com essa guerra e não matarem mais ninguém se eu provar que vocês se amam?

Glaerd e Ifriti riram como dois inimigos naturais fariam sem pensar depois de mais de cem anos numa briga constante. Ambos disseram:

- Se você provar isso garoto, nós viramos até seus lacaios.

Nesse momento o mago se transformou num homem por volta dos 20 anos com mais de 2 metros de altura. Seus olhos eram negros, assim como seus cabelos longos. Tinha uma longa barba, e várias cicatrizes pelo corpo. Ele soltou o selo de Glaerd enquanto ainda o controlava pelo feitiço, e deixou Ifriti paralisada cair numa altura que com certeza a mataria. Glaerd voou para baixo numa velocidade impressionante, e salvou Ifriti. Ele logo tirou o selo dela, e ambos voaram pelo céu juntos. O claro do céu parecia se iluminar com aquelas duas grandes figuras voando juntas em torno das nuvens. O mago sabia que havia ganhado, e que a tia avó já deveria estar voltando ao normal naquela hora.

A tia avó abraçou Maggie com força enquanto o céu escurecia, o próprio escurecer parecia mais calmo graças ao mago. A menina queria saber onde estava o mago e todos davam a mesma resposta: que ele teve que ir embora. Depois de alguns dias na calmaria daquele lugar, e aprendendo sobre suas frutas e animais, Maggie teve que ir embora. Ela se apresentou para Arquimedes que disse para ela se apressar, ou perderia a última parada.

Ela acordou na estação do trem, com as mesmas roupas que havia deixado o local e sua mala intacta. Sua mãe a esperava para poder dar aquele clássico abraço de mães. Ela disse silenciosamente: “Um rapaz deixou esse bilhete para você, disse que seu nome era mago, que garoto estranho e alto”.

Maggie desesperada abriu o bilhete escrito com letras azul garrafadas:
“Estranho como certas pessoas conseguem confundir buraco e coração”.

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