Um homem está à beira do precipício

Um homem está à beira do precipício. Ele passou tanto tempo olhando para ele, que o precipício começou a olhar para ele. Ele se sentia como o pior ser humano já criado, ele sabia que tudo era construção até o bem e o mal, mas ele nunca achou isso. Não de verdade. O bem e o mal eram cinza, mas ainda tinham cor.

Um trovão caiu bem perto, e ele estava prestes a andar até o final do precipício. Ele queria parar de sentir a culpa, ele queria parar de ser o culpado. De repente dois ratos brancos, um pequeno cabeçudo e um grande bem magro surgiram. Eles começaram a falar com o homem:

-Você, pare de se culpar. Disse o rato grande.

- Eu ainda acho que ele estava errado. Ele queria tanto saber o que é amor, mas descobriu que dói e nem sempre é certo. Disse o rato pequeno com cabeça enorme.

- Eu acho que vocês não existem, é famoso na psicologia expressar a raiva criando personagens.
O rato pequeno começou a rir e se sentou no ombro direito do homem. O rato grande deu uma tapa na cara do homem e depois sentou no ombro esquerdo. Um trovão atingiu exatamente a ponta do precipício da montanha o deixando segundos de cair:

- Eu não vou me jogar, eu só precisava estar aqui e sentir o cheiro da chuva. Não há nada de errado com isso.

- Você tem que superar isso, você fez algo bom. Disse o rato grande.

- Ele quebrou o coração da pobre menina, como ele fez algo bom? Gritou o rato pequeno.

- Seria pior depois, e nós acabaríamos nos destruindo. Eu sabia disso, eu não queria sofrer tanto, mas eu tive que fazê-lo

Os ratos começaram a lutar. O alto lutava ferozmente com o pequeno que só lutava aos poucos, com golpes precisos. De repente o pequeno deu um ataque conciso. A luta estava terminava, o alto desistiu de lutar e sorriu.

- Você ganhou essa. Disse o grande.

- Finalmente, achei que minha vida inteira ia perder. Você luta sem sentido, mas é forte à beça. Disse o pequeno.

-Maldição, minha imaginação agora está lutando entre si.

-Sempre lutamos contra você, já era hora de lutarmos a favor de você. Disseram os dois ratos brancos.

O homem andou até a beira, com um sorriso no rosto. Olhou de novo para o precipício. As rochas rolando por baixo da montanha traziam tranqüilidade ao rato grande. O abismo não estava sorrindo, o abismo já não tinha expressão. O impressionante de tudo é que ele agora mais que nunca parecia em contato com algo maior, e tudo que ele gostaria de fazer era pedir desculpas, desculpas por não ser perfeito.

Os ratos começaram a sorrir e cantaram com uma voz estridente alguma música com ritmo. O homem se sentia melhor, e agora o mundo nem parecia o inferno astral que ele tanto previa. A chuva parou, e o sol começou a brilhar num céu sem nuvens. O menino nunca encontraria paz, mas pelo menos ele sabia o que deveria saber. Na hora do aperto, ele conseguiria tomar as decisões que verdadeiramente importam.

O menino andou seco até o túmulo passo por passo. Ele trazia rosas vermelhas no braço como uma espécie de signo. Ele chorava como quando criança que cada coisa do mundo principalmente filmes infantis te tocam. Ele ajoelhou delicadamente sobre o nome cravado e disse:

-Adeus, Hera.

-Adeus, Hera. Disse o rato pequeno.

-Adeus, Hera. Disse o rato grande.

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