Um primeiro encontro.


Zeus era um garoto quase normal, tinha grandes olhos negros e cabelos negros. Tinha uma pele bem branca, era extremamente alto e era bem magro para alguém com mais de um e noventa centímetros de altura. Tinha uma personalidade talvez calma demais, menos quando jogava qualquer esporte. Tinha um coração que mesmo no meio da sua timidez conseguia ser visto de relance. Zeus nunca teve habilidade com mulheres, ou melhor, era algo que ele queria ter habilidade, mas não fazia parte dele.

Ele era uma pessoa em geral muito feliz com tudo que tinha na vida, tinha sucesso em quase tudo que tentava mesmo nunca tendo uma namorada, e tinha um espírito competitivo e de vontade que pouco se vê igual. O melhor jeito de descrever Zeus é o melhor desastre já feito dentro de uma pessoa, ele via as coisas de uma forma diferente e isso talvez fosse algo bom e ruim ao mesmo tempo.

Poucas coisas o incomodavam, talvez um pouco a solidão o irritasse, mas nada que sobrevivessem dois sambas em um violão com mais de 20 anos. Até aquele dia fatal, fatal para tudo que ele gostava e estava apegado a ser. A verdade é que qualquer espectador de fora não veria como uma tragédia e sim como uma pequena vitória.

Zeus tinha chegado à sua universidade fazendo seus 18 anos, e era um dia triste porque Zeus nunca gostou de seu aniversário. Sua amiga Hera sabendo disso o preparou uma surpresa e enquanto um filme tocava numa sala escura tampou seus olhos e lhe deu um presente de chocolate. Ele ofereceu para as pessoas próximas incluindo uma menina com lindos azuis bem claros, num tom bem calmo. Zeus nunca ficou tão impressionado, algo o irritava profundamente naquela sensação, mas dez minutos descobriu que seu nome era Têmis e estudava psicologia na mesma faculdade que a sua.

Aquilo se perdeu na sua mente por dias, talvez até semanas, mas ela sumiu do mapa. E Zeus tava ocupado tentando ir bem a três provas extremamente difíceis e um campeonato de corrida simplesmente infernal. Ele tentava apagar coisas que não podia mudar, ele tentava apagar tudo que não pudesse ser resolvido com um raio de uma idéia.

O problema é que as coisas nunca terminam tão facilmente. Outro dia ele tava fazendo uma das suas atividades favoritas que consistia em subir em cima da escada e analisar os gestos das pessoas. Ele viu um ótimo amigo seu chamado Golias, um menino baixo bem magro e barbudo. Um típico universitário tinha pele morena e olhos castanhos. Ele conversando sem parar com Têmis. Calma, Têmis tava no cinema hoje. Zeus começou a lembrar de duas meninas que chegaram atrasadas e ele nem viu o rosto, eram Têmis e uma amiga. Golias parecia se esforçando muito para agradar Têmis. Zeus falou sem pestanejar:

- Ele um dia gostou muito dela, mas ela não o quis. Pode-se ver até pelo jeito de braço e a maneira como os dois trocam olhares.
Seus amigos o tacharam de esquisito. Depois ele descobriu que o que ele pensava era a mais absoluta verdade e que Golias iria apresentar os dois. Zeus sentiu uma remoção interna que o incomodava. No dia combinado Golias o chamou, quando de repente percebeu que ele tava atrás de uma pilastra imperceptível para qualquer pessoa. Ele tinha descoberto que aquele negócio interno o fazia correr também, o que ele estava acostumado a fazer só em competições.

Zeus adorava ir sozinho num cinema perto da sua quadra, era um dos seus lugares favoritos. As pessoas eram quietas, os filmes eram bons e tudo ficava em perspectiva quando ele ficava lá, poucas coisas podiam o atingir. Têmis tava no mesmo cinema duas cadeiras embaixo, e tudo que ele queria fazer era perceber sua respiração batida por batida, segundo por segundo. Quando saiu do cinema sentou no meio-fio, esperando o cachorro quente que tinha pedido na barraca ficar pronto. Ela se aproximou dele e começou a conversar:

- Você gostou do filme?

- Eu gosto do personagem seqüestrado, ele ficou em tanta paz. Ele sabia que talvez fosse morto, mas é como se ele tivesse em paz com toda sua vida. Ele sabia que tinha feito exatamente o que queria como presidente da Itália e nenhum grupo extremo mudariam isso. Só não entendi o final, eu sei que na vida real ele morreu então porque parece que ele saiu do seqüestro?

- A alma dele foi embora.

- O que Têmis?

- Sua alma foi libertada, ele tava livre para ir para qualquer lugar que existe depois daqui. Eu tenho que ir, meu amigo me espera.

Um homem muito moreno, com camiseta rosa e barba extensa a beijou e eles foram embora. De novo dormir deixava de ser um fácil habito para Zeus, algo em seu temperamento impedia que ele agüentasse aquilo, aquela vontade interna de ver ela, de saber dela. Ele não agüentava não poder mudar como se ele fosse o arquiteto das grandes coisas, mas ele percebia que tinha que se entregar ao que tinha de ser e mudar o que suas mãos pudessem alcançar.

Zeus resolveu procurar na internet, e começou a trocar cartas pela internet com Têmis, e eles viraram amigos. E num dia de chuva, Zeus sempre achava que a chuva o trazia sorte, ele chamou Têmis para o cinema no dia seguinte, no horário onde no cinema só teriam eles, casais de pessoas velhas e alguns roncadores. Zeus sentia que finalmente pode dormir, e aquele negócio interno podia ir embora depois disso, ele queria com todo seu poder cortar, despedaçar e se livrar daquilo seja lá o que seja.
Quando acordou, sua mente virou de um deus grego. Ele sabia o que queria e ia atrás disso. Nas suas conversas ele descobriu uma bala que ela adorava, mas sumiu por meio de sua cidade. Depois de seis supermercados, uma adega e um mercado municipal, ele conseguiu achar a balinha e comprou três sacolas para o cinema. Embrulhou perfeitamente com um laço, que nunca teve capricho igual desde que ele começou a fazer laços. Isso tudo era novo por ele, ele não gostava de coisas novas. Maldição, ele não gostava nem festas surpresas, balinhas surpresas, qualquer coisa com surpresa no nome o enlouquecia.

A tarde chegou e ele chegou 1 hora antes do encontro e esperou debaixo do bloco do prédio de Têmis. Ele pegou um livro velho sobre tal amor nos tempos de uma doença, algo bem legal, parecia um tratado de amor. No final o homem depois de esperar mais de décadas conseguiu o que era o amor da sua vida, histórias não costumavam fazer nada para Zeus, mas agora ele só faltava chorar e comemorou levantando os dois braços para o alto por causa do personagem. Ela chegou pelas costas dele e gritou:

-Surpresa. Você sempre comemora como alguém de dez anos?

- Sempre. Para variar trabalho numa dançinha da vitória por todos os Underdogs.

- Underdogs?

- Sim, sabe. Aqueles que têm as menores chances, aquele que não gritam o que são. Os underdogs normalmente fazem de tudo pela donzela, mesmo sem ela saber seu nome. Eu torço sempre por eles.

- Você é diferente sabe.

- Sei, vamos ao cinema?

No carro, o silêncio foi preponderante, e nessa hora Zeus colocou o primeiro CD que ele comprou de uma banda chamada loser manos. O CD era intenso, com muitas músicas de começo de banda, mas que já mostravam o sentimento da guitarra e do vocalista. Chegando ao local, Zeus correu como um raio para poder abrir a porta para ela, e ela agradeceu com um sorriso meio-aberto. Nessa hora para terminar o momento, Zeus tirou da gaveta debaixo do banco, três sacos da balinha que ela respondeu com pulinhos de alegria, e que ótimos pulos principalmente os dentro de Zeus.

O cinema era o maior da cidade. O shopping inteiro era o cinema, o resto era só alimentação e estourando uma loja que estava na moda. O filme era um dos famosos romances da Índia, que tinha ganhado vários prêmios. O filme na verdade não tem a mínima importância. Sim, não tem a mínima importância, porque a última coisa que ele conseguia pensar era o enredo. Ele pensava nos seus olhos, e em como tudo aquilo o irritava profundamente, poder olhar para ela e simplesmente não poder beijar seu rosto. Ah, a agonia desse sentimento.

O seu primeiro plano foi o famoso vou espreguiçar, mas na verdade quero te abraçar. Um total desastre, sua falta de coordenação somada à diferença dos tamanhos causou desconforto em Têmis. Agora o segundo não foi um plano, foi quase sem querer. Ele esticou para pegar uma balinha, e voltou o braço para a divisória entre os dois bancos. Os braços se encontraram, e se seguraram. Pelo resto do filme ficaram dessa maneira, e a barriga de Zeus parecia cheia de trovões, chuvas, borboletas, uma verdadeira zorra.

O filme acabou, e o papo sobre o filme foi tão leve e simples que nem vale a pena ser citado. Cada um deu sua opinião, e pronto. Ela escondia o cabelo, um claro símbolo de ficar sem graça. Ele sorria como um descobridor que acaba de ver ouro, e meio não sabe o que é, o que faz, como faz, enfim um verdadeiro perdido em territórios desconhecidos.

Ele a levou para casa, a conversa agora tava sendo mais fácil. Os dois trocavam informações sobre a família, onde nasceram, as infâncias, o clássico nós vamos nos conhecer bem. Ela saiu do carro, ele saiu do carro. Ele começou a sorrir e disse:

- Sabe o que cai, mas nunca se machuca?

- Não.

- A chuva.

A chuva começou a cair e os dois correram perdidos pela chuva, ele ia claramente mais rápido. O problema é que ele parou, e a esperou. E disse bem alto:

- As melhores cenas dos filmes bobos que assisto, sempre são na chuva.

Ele sorriu, e parecia que tinha acabado de descobrir a solução para o como dos seus problemas. Ele correu e a beijou enquanto uma chuva torrencial caia sobre os dois. Ele lembrou que tudo que havia ocorrido de bom na vida, tinha sido no meio de uma chuva torrencial. Ela sorria, enquanto ele mantinha a pose de eu não estou achando nada muito grande, mas por dentro levantava os braços como um menino de dez anos.

Os dois entravam num canto escuro do bloco e começaram a se beijar sobre um ar frio. E Zeus disse sorrindo:

- O quanto mais cresce menos se vê?

-A sombra, eu sabia essa.

-Então vamos, para a sombra.

Os dois se beijaram por algum tempo, e cada um foi para seu próprio caminho.

Infelizmente, não é isso que aconteceu, porque as coisas nem sempre são certas e bonitas. Ela não conseguiu ir ao encontro, e os dois nunca mais se encontraram. Infelizmente as histórias não terminam como deveriam terminar. A sinceridade é que Zeus ainda procurava a solução do seu como no papel. E talvez as coisas que ele pediu não tenham vindo como ele queria, mas talvez fosse cedo demais para se descobrir. É, cedo demais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Congresso geral do Fracasso.

A morte das palavras.

Esquecimento.