Você é romântico?
Ele esperou meses por aquele dia. Acordou cedo. Fez a barba. Limpou o apartamento. Lembrou-se de tudo que ela havia prometido, cantava suas palavras como se fossem sua música. Avisou ao porteiro que receberia alguém. Havia cozinhado dois pratos, difíceis, e colocado no fogão. Economizou o dinheiro que gastaria no táxi, porque não gostaria de se atrasar no ônibus. Ninguém seria capaz de adivinhar seu passado inconsequente a partir daquele dia. Ele era um homem em uma missão. Seu apartamento minúsculo tinha ganhado cor: flores novas haviam sido compradas, a louça estava limpa, as garrafas de cerveja na lixeira, a cama com novos lençóis, e, finalmente, seu humor era outro. Vendo esta cena, um espectador comum não entenderia os meses de desespero perto do telefone, as noites mal dormidas olhando o computador e as garrafas inúteis de vinhos gastas no chão. O amor tem o efeito absurdo de nos tirar do nosso bom senso...