Saudosismo
Uma criança sorri, enquanto brinca, desavisada, sobre os olhares que seu pai lhe da. Ele tenta enxergar nos seus olhos, o brilho que nunca deixou de existir. Os olhos são estruturas estranhas, mantém seu brilho, mesmo sobre as condições mais adversas. O clube da luta começa com um homem abrindo um caderno, os órgãos começam a falar naquelas páginas. Boa tarde, eu sou os olhos, sou aquilo que você deixa de ver. Bom dia, eu sou as córneas, você terá que ficar cego para poder entender. A criança sorri, casualmente, sem saber direito sobre as reflexões do seu pai que brinca com os dedos, enquanto se preocupa com sua filha, seu jeito, seu andar, e sua vida. Pergunta-se o que haveria de ter acontecido, caso ele fosse mais tolerante, caso suas palavras não tivessem sido tão amargas. Sua esposa poderia ter ficado em casa. A geração repete os mesmos erros do passado, seu pai havia sido abandonado pela sua mulher, depois de vinte anos ausente desta mesma vida. ...