Nascimento.
Um homem sábio dizia em plena praça pública que nossas vidas são narrativas. São o que temos que repetir, incessantemente, para demonstrar quem somos. Alguém repete a mesma história: no dia que eu nasci, alguém me disse que fechei os olhos profundamente, as enfermeiras não entenderam porque a criança não abria os olhos, não conseguia ainda articular suas palavras para tamanha incompreensão, choro devagar e lento, sanado pelas mãos cuidadosas de enfermeiras. A criança demorou horas para, finalmente, abrir os olhos. Seus cílios se movendo devagar contra a luz inconcebível daquele berçário, suas primeiras palavras de ajuda frente ao mundo incompreensivo. Se ao menos, fosse capaz de articular uma narrativa naquele momento. Talvez pudesse ter se explicado antes que fosse tarde demais. Os homens contam sua vida a partir das palavras colocadas em uma bela seqüência lógica. Ordenam seus posicionamentos como um mapa de geografia. Um louco foi encontrado em plena Paris construindo marcas em ...